É da natureza humana, de um modo geral, relevar o que inicialmente
lhe parece de pouca importância; o problema é o critério avaliativo.
Releva-se ali, aqui e acolá e, em dado momento, percebe que a
coisa perdeu o rumo, tenta frear, mas também se dá conta de que as rédeas se
perderam pelo caminho.
Tem sido assim de forma sistemática, onde um novo Brasil se
revelou aparentemente maravilhoso em seus avanços, mas que deixava a todos
atônitos com a rapidez com que se ia absorvendo as novidades globais, tão veloz
que a maioria se perdeu, se confundiu ou simplesmente foi aceitando por não
enxergar uma saída sem grandes traumas.
Esse medo, quase terror, levou as pessoas também em sua
maioria a novamente recolherem-se numa inércia de apenas aceitação, engolindo
sapos se iludindo como se lebres fossem e deixando crescer dentro de si mesmo
uma revolta sufocante que, vez por outra, mas cada vez mais acelerado e
constante, aflorava todo o seu rancor por se sentir violentado.
Tem sido assim na última década de forma muito expressiva o
aumento da violência nos meios sociais, exacerbando sem qualquer piedade uma
agressividade latente, começando no seio das mais nobres famílias e se
estendendo sem qualquer freio em todos os setores dos relacionamentos humanos.
Na realidade, a liberdade de um passou a representar o
aprisionamento de outro, numa espécie de vingança surda ao desamparo social,
migrando para os relacionamentos amorosos até os mais triviais do cotidiano.
Vou citar apenas um banal exemplo do som alto, levando as
pessoas a sufocarem suas necessidades básicas como descansar, comer em paz, estudar
ou trabalhar e até mesmo entabular uma simples conversa, sem que o gosto
musical do vizinho não adentre através das paredes e das almas, num
afrontamento que até foi regulamentado, como se das 7 as 22 horas, o outro
tenha o direito de infernizar a vida alheia. É mais uma Lei do jeitinho
brasileiro de tentar agradar a gregos e troianos.
O que vem provar que os fazedores de leis e seus mantenedores
estão tão contaminados como qualquer outro mortal tupiniquim, pois garantem ao
agressor o direito de invadir o direito de quem quer que seja.
E se observarmos bem direitinho e de forma isenta (se é que
ainda é possível ter), constata-se que este critério tem sido seguido
sistematicamente, atendendo aos solicitantes dos próprios direitos sem que lhes
sejam cobrados qualquer noção de limites como dever.
Enquanto se for fazendo concessões por preguiça, inércia ou
mesmo ingenuidade, a galera esperta e doidivana vai ocupando espaço na posse de
seus direitos e como tratores desgovernados seguirão caminho atropelando os
direitos do alheio, num pouporri de ignorâncias e abusos sociais e, infelizmente,
passarão também a receber de forma cada vez mais exacerbada o troco nos becos
sociais de gente que se sente invadida e que acredita que olho por olho e dente
por dente será sempre a mais rápida solução, onde já não existe a devida
argumentação na manutenção do bom senso.
Simples assim, mas perverso, não resta a menor dúvida.
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