sexta-feira, 1 de agosto de 2014

MEDITANDO


São cinco e trinta da manhã e o dia ainda parece que está dormindo.
 Apenas parece, pois na realidade um novo dia já despertou há algum tempo e sei disso através do galo, dos pássaros e, se não bastassem, dos meus cães que possuem despertadores biológicos infalíveis que insistem em me tirar da cama às quatro da manhã.
Não estou reclamando, de jeito nenhum, apenas relatando esta minha rotina que, na realidade, pela sua naturalidade e também com a imensa suavidade que sempre se apresentou foi determinante, sem dúvidas, por  toda a qualidade dos meus restantes de dias, mesmo aqueles em que os problemas, as dúvidas, as perdas, as frustrações se fizeram presentes.
Então, sozinha com o universo, neste demorado amanhecer de sexta-feira, ouvindo a chuva insistente caindo lá fora nas folhagens, e ainda sentindo o aroma gostoso, que sempre amei de terra molhada, penso no quanto a força energética de nossos pensamentos influenciam nossas relações interpessoais, criando inclusive blindagens invisíveis, mas poderosas, que como aço reforçado, impedem que nossos dias sejam atingidos pelos meteoros sistêmicos que desgovernados, quando nos atingem, abrem crateras de dor, incapazes de serem tratadas, quanto mais sanadas.
O milagre de um simples sorriso, com certeza, tudo muda ao nosso redor, mas quando falamos ou escrevemos, alguns dizem tratar-se de bobagens, autoajuda filosófica sem qualquer utilidade prática no cotidiano.
Será mesmo, ou apenas criaram-se retóricas, tipo:
“A vida é assim”, e nos conformamos a remar contra a maré, como se este exercício contínuo até mesmo aos atos mais banais deva ser nossa sina existencial?
A vida quando bem observada, nada tem de cobradora ou madrasta, na realidade ela é o ideal a ser seguido, mas que a verdade seja dita, quem admite ter tempo para se dedicar à vida?
E neste desencontro de ideias e ideais, nos chocamos abruptamente por todo o tempo com o óbvio que abusado se mantém diante de nós e que atrevido na sua originalidade nos mostra por todo o tempo que a vida é simples, viver mais simples ainda e que manter-se harmonizado à vida é só uma questão de escolha, tais quais as numerosas outras escolhas que nos dispomos a cada instante.
Mas aí, se tiramos de nós o brilho falso das dificuldades, apagamos os reflexos de nossas glórias pessoais, deixando cair por terra nossa absurda vaidade, sobrando, tão somente, a mais simples das certezas, que verdade seja também dita, que  quase ninguém está preparado a admitir, porque, afinal, sentir-se em paz, pode parecer cafona, mico sistêmico, coisa de gente à toa ou fracassada.
Coisa de gente que não tem o que fazer, pouco ocupada, com tempo ocioso, afinal, não se pode dar tempo ao tempo, pois precisamos fazer dele a todo instante nosso mais cruel carrasco, nossa desculpa predileta para justificar toda a nossa insanidade em atropelarmos a vida sem qualquer noção da nossa própria vida.
O dia finalmente clareou, a chuva, agora, parou de cair e os pássaros mais ariscos estão mais próximos, bailando com a vida, nesta adorável manhã.
E eu ainda, somente com o universo, sinto fominha e vou tomar café.
Um beijo carinhoso em todos que me leem, porque, afinal, escolhi não dar atenção ao tempo e, tão somente, viver a vida.


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