Neste amanhecer de quase final de primavera, além dos
pássaros com seus sons divinais, posso também sentir os aromas que adentram em
minha casa através da janela, na qual bem próxima me encontro, como sempre,
escrevendo.
Nesta manhã,
especificamente, posso sentir com mais precisão o perfume das rosas que por estarem
bem próximas, se fazem presentes, lembrando-me, então, o quanto além de
perfumadas são belas.
Enquanto,
neste instante, registro toda esta maravilha que, afinal, circula à minha volta
e que, confesso, sempre estiveram presentes, provavelmente porque também sempre
estive atenta ao belo e o presente, também penso no quanto fui tola, romântica
e perigosamente infantil por acreditar que o mal, o feio e o rude podiam ser
ignorados e mantidos sob total vigilância, por serem explícitos em suas
performances.
Qual nada...
Com o passar do tempo e a aquisição de maior experiência vivencial fui
percebendo a infinidade variável de sua apresentação e no quanto eu estivera
tola por crer que podia mantê-lo sob controle.
Fui
aprendendo na forma mais dura a reconhecê-lo em sua incansável tarefa de por
todo tempo espreitar tudo à partir de si mesmo e tentar e muitas vezes
conseguir, no mínimo arrefecer a fé, abalando estruturas, contaminando tudo
quanto possa de alguma forma alcançar.
Fui também
percebendo o quanto seu poder de contágio era capaz de distorcer mentes até
então aparentemente limpas e desprovidas da mácula do mal.
Outro ledo
engano que a experiência aos poucos foi me mostrando, convencendo-me com
fundamentos sólidos, que somente contamina àqueles que lhe têm afinidade e,
para tanto, o mal com maestria os selecionam por todo o tempo.
Penso,
então, que apesar de tudo quanto tenho vivido, sou uma resistente, pois tenho
sido capaz de até mesmo conviver com ele sem dele tornar-me aliada.
Mas a que
preço? Talvez ao preço de ter-me, despido por inúmeras vezes, justo para não
guardar em mim qualquer vestígio de suas influências nefastas.
Dispo-me sem
pensar e muito menos lamentar o que deixo para trás em minha caminhada, não me
volto e, como a vida, amanheço e noiteço em constante renovação, tendo como
fiéis seguidores nesta minha jornada, os sons e os aromas que encantam, sendo
capazes de me manterem inspirada, apaixonada e agradecida e, além disso tudo,
ainda forte e resistente para enfrentar todos os males que certamente nem
sempre reconheço de pronto, mas que está sempre presente como uma espada
afiada, querendo e muitas vezes conseguindo ceifar o belo, o puro e o irresistível,
que se apresentam a mim e a você que ora me lê, tentando tirar de nós o direito
sagrado de enxergar a vida tal qual ela é na sua realidade, roubando-nos
preciosos instantes, maculando com seu vasto poder de contágio nossas óticas,
turvando-nos a mente.
Então nesses
momentos, resta-me levantar os olhos e também insistentemente posso enxergar o
sol romper as ainda névoas da noite e, assim, penso no quanto também somos capazes
de não menos insistentemente seguir em frente, estejamos bem vestidos ou quase nus,
porque, afinal, acreditamos que a vida é bonita, é bonita e é bonita.
Que nesta
segunda-feira de quase final de primavera, os perfumes e aromas, as cores e as
luzes adentrem em suas vidas no propósito maior de resistência ao mal, na
necessidade maior de se sentir em paz.
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