Em 1977, em
meio a uma ditadura militar, uma crônica que escrevi pela passagem da semana
Santa que finalizei, dizendo: “Senhor, perdoai-os, porque não sabem o que fazem”, custou-me a dor de
passar anos a fio sem escrever em jornais e revistas.
Sem poder
trabalhar em minha profissão e principalmente fazendo o que amava, busquei
outros rumos de sobrevivência, sem, no entanto, abandonar minhas convicções e a
certeza absoluta de me manter firme na coerência de meus propósitos
profissionais, resguardando tenazmente minha dignidade pessoal, bem maior só
comparada a minha própria vida.
A Ditadura,
apesar de longa e desastrosa, deixou sequelas, mas passou, levando consigo o ranço
da coisa ruim que representava, e aí, agora neste instante, desfila em minha
mente outras situações, outros momentos desagradáveis que o ato contínuo de
viver apresentou a mim, no decorrer da vivência, e surpreendentemente, sorrio,
afinal, voltei a escrever e a ditadura foi derrubada.
Sorrio,
sentindo o meu rosto iluminar-se, porque afinal, superei a todos com a galhardia
de quem soube filtrar e processar as agruras e desencantos que vez por outra se
apresentaram em forma de gente feia, que infelizmente sempre existirá.
Tanto tempo
passou desde aquela época e ainda sou capaz de lembrar-me sem mágoas, mas
absolutamente consciente de que esquecer, seria um erro.
Hoje, trinta
e cinco anos depois, frente a outra ditadura, tão feia quanto, repito a frase
da vitória:
- Senhor,
perdoai-os, porque afinal, incautos que são, não sabem o que fazem
COISA FEIA, GENTE FEIA,
POSTURA FEIA...
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