Respiro fundo como de hábito, espreguiço o corpo e sinto um
leve arrepio que me faz lembrar que o inverno chegou, mesmo que de mansinho,
mesmo que acanhado, diante do sol ardente que, poderoso, não cede o seu lugar,
induzindo-me ainda a crer que o verão
permanece, nem que seja na impressão gostosa de sua intrometida, mas bem feita
presença em partes do dia.
Enquanto analiso este quase duelo entre o sol abusado e a
tímida chuva, reparo que o sabiá cantador não está solitário nesta sua
cantoria, pois noto a presença de canários sopranos e de outros cantadores que
não distingo quais são.
Penso, então, que não estou sozinha neste meu acordar bem
cedinho, pois logo encontrei no sabiá,
companhia assim como para nós apareceram
mil pássaros cantando a vida, semeando a
terra, trazendo a luz de um novo amanhecer.
Lembro-me das acerolas temporãs que de junto da porta da cozinha,
salpicam o pátio, como se fossem contas coloridas que se contrastam com o azul
do céu, desafiando-me por todo o tempo a esquecer do tudo lá fora, nublando-me
a razão, levando-me a crer e a sentir com certeza incontestável, que o paraíso
que busco lá fora, está bem aqui, do lado de dentro.
Uma terça-feira de paz com um paraíso dentro de cada um de
vocês.
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