E aí, quando
penso e escrevo sobre a necessidade urgentíssima de se dedicar à educação
olhares e atitudes mais consistentes, refiro-me às carências em que a mesma se
apresenta nas sistemáticas humanas, que de uma forma ou de outra por todo o
tempo atinge a todos e que não passam despercebidas, sentidas, ou ambas, nas experiências
cotidianas de todas as pessoas, sem distinção.
Geralmente,
em conversas junto a conhecidos ou amigos, ou através das várias mídias,
focamos os problemas mais comuns que afligem a todos, vendo-os pipocarem ou
assolarem mais este ou aquele país, ou esta ou aquela região de nosso país.
Às vezes,
tratando de um assunto restrito a poucos ou simplesmente a nós, deparamo-nos
com horrores como as discriminações de quaisquer naturezas, pobreza extrema,
violência crescente, enriquecimento ilícito, abuso de poder, marginalidade
afrontosa, e por aí vai, em um desfile infindável de mazelas que ajudamos a
manter com nossas omissões no mundo através de seus sistemas locais.
Falamos, discutimos,
argumentamos, nos harmonizamos, como se na prática nada tivéssemos com tudo isto,
quando na realidade, por motivos diversos, mas todos por falta da bendita educação,
somos os únicos responsáveis.
Nos momentos
cruciais, nos calamos, omitindo nossas consciências coletivas, única e
exclusivamente para proteger nossos interesses pessoais ou, no mínimo, para não
ficarmos em evidência momentânea, seja por medo, indiferença, ou porque sabemos
lá em nosso íntimo que deixando como está, de alguma forma, seremos
beneficiados.
E aí, não
nos apercebemos da ação brutal da falta que o letramento produz em nossos
entendimentos, induzindo-nos por todo o tempo a acreditar em entendimentos que
estão, no mínimo, defasados, dúbios e dolorosamente cruéis em relação ao bom
senso comum, que deveria ser a tônica de qualquer relacionamento entre seres
vivos, ainda mais racionais.
Escrevendo
assim, podem até achar que falo apenas dos analfabetos e pouco letrados. Ao
contrário, falo de todos nós, incluindo os doutores em geral, mestres e
educadores.
Falo de mim,
de você e de todos com instrução acadêmica, ou não, que jamais conseguiram
incorporar dentro de suas ações e pensamentos a ética na mais pura de suas intenções
em prol de transformar o caos de seus próprios universos pessoais para que estes,
em algum momento, não se voltem contra si mesmos, como se as mazelas só
batessem nas portas alheias.
Somos
omissos, covardes, hipócritas e, acima de tudo, mesquinhos quando permitimos,
aceitamos e até defendemos a escória que nos governa, os escroques com pose de
bons samaritanos, que generosos tiram de mim, de meu filho, de você e de nossos
vizinhos o direito a uma escola decente, com merenda de qualidade, transporte
seguro e digno, profissionais comprometidos, o remédio, o posto de saúde, o
hospital, o médico, o dentista, o saneamento básico, a coleta e tratamento dos
lixos produzidos e, sobretudo, o respeito pessoal, através de desvios,
negociatas e persistentes faltas de caráter camufladas através de sorrisos
fáceis, esmolas assistenciais, empreguinhos de terceira classe que nos mantém
reféns deles e da falta de liberdade.
Isto é não
ter educação, independentemente dos títulos acadêmicos que possamos ostentar.
Afinal, que
formadores de opiniões somos se sequer conseguimos discernir o lógico
necessário a humanização da humanidade que representamos?
Que
interpretação podemos oferecer às nossas atitudes, tão covardes quanto à
covardia daqueles que esfolam a nós e aos nossos semelhantes?
Que
liberdade possuímos em nossos míseros redutos de sucesso pessoal, se precisamos
nos encouraçar por todo tempo, convivendo com a vergonha e a violência que
permitimos que nos governe e dite as nossas próprias passadas?
Jamais
haverá liberdade enquanto não formos capazes de reconhecer nossa própria
ignorância em não enxergar a miséria que reside ao nosso lado, debaixo de nosso
nariz, e que fingimos nada ter verdadeiramente com isto por não termos educação
e sentido de cidadania.
Afinal, nos
justificamos dizendo ou pensando:
- pago meus
impostos, cumpro minhas obrigações, até ofereço empregos e vou às urnas.
Na realidade
somos um número nas estatísticas, além de mantenedores do bem de apenas alguns?
Não é assim
que procedemos, focando tão somente o nosso umbigo, sem sequer nos apercebermos
que estamos míopes ou até mesmo cegos?
Se não somos
capazes de perceber nossas próprias mazelas, como podemos mensurar o quanto de
vida nos é tirado em meio ao caos com que compactuamos como robôs ou vaquinhas
de presépio, então como podemos crer que somos pessoas educadas, ainda mais
educadores?
Pense
nisso!...
Como
defender um sistema educacional que não amplia e esclarece a visão periférica
de nossa realidade existencial?
Como aceitar
um sistema educacional onde como princípio de estímulo nos garante que um dia
estudando
seremos alguém, portanto, desqualificando e banalizando logo na base
tudo quanto repres3entamos pelo simples fato de apenas existirmos.
Afinal, uma
criança ao chegar a escola já não é um alguém, necessitando tão somente de
burilamento?
Se banalizam
o bem maior que é a vida, como este “alguém” que será formado e muitas vezes se
doutorando, possa compreender o seu valor participativo no todo que o cerca?
Pensem nisso!...
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