segunda-feira, 11 de abril de 2011

RECORDANDO ATÉ O SABUGO

Fiquei pensando sobre o texto que escrevi na edição passada, na busca de um maior entendimento até mesmo de minhas afirmações em relação às possíveis críticas quanto ao fato de eu estar ou não qualificada para achar isto ou aquilo, cujas situações jamais foram por mim vividas diretamente.

Se fosse assim, somente poder-se-ia ponderar, questionar e até julgar-se algo, baseado nas próprias vivências.

Entretanto, concordo que em algumas situações é preciso que se dê um desconto avaliativo, afinal são tantas as implicações e complexidades que seria, no mínimo, leviano desconsiderar-se os agravantes de quem os vivencia in loco.
Uma mãe acaba de perder um filho e as pessoas dizem:
- Eu sei como você está se sentindo.
Como? Por acaso, já perdeu um filho?
Ou:
- Posso sentir a dor da discriminação dos Gays, Negros, etc.
Ou:
- A fome é dolorosa, sei o quanto você sofre.
Todavia, existem milhares de outras situações em que embasados não só em estudos, observações e até vivência, as pessoas podem fazer avaliações bem próximas da realidade do outro, onde o bom senso, a lógica, as leis, a educação, a cultura e tantos outros fatores são os indicativos básicos e, portanto, norteadores à avaliações.
Volto ao passado, precisamente aos anos sessenta, em que vivenciei a minha adolescência e penso no quanto o mundo evoluiu nestes quase cinquenta anos, assim como também foi destruído e no quanto a população mundial se multiplicou .
Penso nos valores que foram soterrados, preconceitos combatidos, mas penso, principalmente olhando atentamente para trás, no quanto se sofria por infringirem-se detalhes comportamentais que tempos depois deixaram de ter qualquer significação, e pensando nisto, posso crer que o mesmo por consequência ocorrerá daqui a alguns anos, cada vez mais rápido, mas ainda assim não poupando sofrimentos.
O planeta vém a cada dia morrendo, já não tão lentamente, e nós, estas incríveis criaturas, continuamos com os mesmos hábitos e a mesma cabeça dura, estejamos nós seja lá em que local da pirâmide social, arrogantemente nos fazendo de entendidos, mas dando de ombros ao azar do futuro que, lógico, não será nosso e, provavelmente, nem de nossos filhos e netos, se a terra secar.
Claro que podemos avaliar, embasados nos estudos e no que somos capazes de observar no que já esta acontecendo, afinal,por todo o tempo, pipocam desastres da natureza que dizem ser naturais, e o são, na medida em que ela apenas reage às ações a ela infringidas.
Achamos que podemos avaliar os sentimentos seja lá de quem for, mas e daí se continuamos exatamente agindo como se fossemos cegos, surdos e mudos, crendo que somos os tais, mas absolutamente inconsequentes em nossas matanças indiscriminadas de vidas que propiciam vidas em um ciclo naturalmente ininterrupto que insistimos em interromper.
E, ai, como não poderia deixar passar batido, penso no sistema educacional que, por tantas décadas, tem sido alvo de minhas constantes observações, nem sempre elogiosas, justo porque me sinto na obrigação de ressaltar que, no meu tempo de estudante de escola pública, inegavelmente o sistema de ensino, assim como a dedicação dos professores, eram absolutamente irrepreensíveis, e a prova disso era a excelência com o qual o ensino público era alvo de elogios e qualificações, o único senão eram que poucos tinham acesso a ele, tal qual às escolas dos ricos.
Ainda me lembro que, no Rio de Janeiro, com exceção de alguns colégios particulares, cujo acesso era restrito às famílias abastadas e que, realmente, possuíam em suas unidades a nata docente da época, nada, contudo, ficavam as escolas públicas devendo a estas instituições, excetuando-se tão somente os prédios majestosos, nos chiques uniformes, nas aulas alternativas e, é claro, roíamos as unhas de inveja dos enormes ônibus escolares que transportavam os alunos, que na época me parecia serem seres especiais, enquanto nós, consolavamo-nos com o velho lotação que sacolejava todo ou com o mais velho ainda bonde.
Em contra partida, éramos os bons, pois competíamos com igualdade de conhecimentos, nas disputas mais acirradas do Colégio Pedro II, do Aplicação e do Instituto de Educação, se bem que, particularmente, não entrei em nenhum; confesso que já naquela época eu vivia no mundo da lua, sonhando com o príncipe encantado e já querendo entender porque as pessoas complicavam tanto as suas vidas, uma vez que eu achava que viver era simples, um verdadeiro papo firme, como dizia o Roberto Carlos.
E olha que eu jamais fumei maconha, pratiquei sexo livre ou fui criada em comunidades alternativas.
Falei de um punhado de coisas aparentemente sem ligações diretas, tudo porque, em dado momento, pensei na tal da virgindade que, nos anos sessenta, ainda era um tabu e que hoje é assunto sem importância, como uma infinidade de outros que fizeram muita gente chorar, matar e morrer.
Penso, então, que ter estado no mundo da lua até que foi legal, afinal, encontrei o príncipe que se não foi encantado, pelo menos não virou sapo.
Permaneci com a ideia fixa de que ser feliz é sempre mais fácil e faz bem à saúde e quanto a complicação que naquela época eu enxergava nas posturas das pessoas, até eu, me vi fazendo o mesmo em certas ocasiões, principalmente por ter tentado ser como aquelas meninas dos colégios especiais.
Fora isso, que fez de mim por um pequeno período uma abestalhada, todo o restante tem sido um verdadeiro barato.
Sugo os meus instantes presentes de vida com imenso prazer, tal qual sempre faço quando acabo de comer uma espiga de milho cozida e que, sem cerimônias, chupo o caldinho salgado que fica no sabugo.
Voce já fez isso também?
Se não fez, faça, pois é muito bom...

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