Havia tempo, não resta qualquer dúvida. A vida parecia mais lenta, mais próxima de cada pessoa e, portanto, era de certa forma mais visível, nem que fosse um tantinho mais, digamos, íntimo.
Na realidade, eu me sentia mais familiarizada com o que eu via ou sentia ou talvez, haja enganos de minha parte e tão somente por ser muito jovem, apenas absorvia dentro de um parâmetro mais poético e bem mais romântico do que a realidade se apresentava.
Não tenho condições de definir, neste instante, o tempo que havia em contraponto com o tempo que parece sempre faltar.
Tudo que sei é que as coisas boas, gostosas de serem vividas, simplesmente em sua maioria, foram ou estão sendo sistematicamente cortadas do cotidiano em nome da pressa, da falta de tempo ou apenas por pura banalidade de não fazerem mais sentido nos tempos modernos.
Olho nos olhos das pessoas, não importando aonde e as sinto tão solitárias...
E aí, lembro de minha Ipanema colorida, de prédios elegantes convivendo harmoniosamente com a favela Praia do Pinto, do Clube Caiçaras, da AABB, do Monte Líbano, lugares de convivência após as aulas.
Recordo do Cine Pax, da Igreja e Praça Nossa Senhora da Paz, da Lagoa Rodrigues de Freitas, do Posto Onze, aonde por 18 anos bronzeei minha pele e aprendi a amar o mar.
O tempo parecia se estender, pois dava tempo para fazer de tudo um pouco.
Dava até tempo para escrever poesias, compor músicas, pintar quadros, escolher, enfim, ser artista.
Dava tempo de ir à escola, freqüentar festinhas, fugir da policia nas passeatas e se tornar subversivo.
Dava tempo de amar no escurinho, escolher assistir um filme no Drive-in, tomar um sorvete no Morais, pedalar pela Rua Barão da Torre e escutar na vitrola um novo som chamado Bossa Nova. Atividades dos anos 60, onde o tempo parecia maior ou talvez fosse a vontade de muito viver que fazia daquela geração, uma exaltação à paixão.
Havia tempo para ler Carlos Drumond, Vinicius de Morais, RilKe e tantos mais que me ensinaram a gostar da formação que sempre é possível se dar às letrinhas para com elas expressar sentimentos.
Havia tempo para andar de ônibus, tirar onda com o carro alheio, ir aos bailes do Hotel Glória e assistir a querida Mangueira com seu verde e rosa brilhantes, desfilar na avenida.
Havia tempo para não fazer absolutamente nada ou quando muito olhar à toda volta, absorta com toda aquela maravilha que significava vida.
Havia tempo, para se dar o bom dia e boa tarde, e ambos se encontravam com o boa noite, fazendo assim amigos.
Havia tempo para se dar sorrisos que abriam portas e escancaravam corações, assim como nutria a alma, trazendo felicidade, produzindo silenciosamente lembranças, que resgato agora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário