domingo, 30 de julho de 2017

ENQUANTO TODOS DORMEM...


A chuva pesada desaba lá fora e mesmo estando a casa toda bem fechada, não me sinto aquecida, pois há um frio jamais sentido nesta tão amada Itaparica, costumeiramente calorenta por ser abusadamente ensolarada.
Todos ainda dormem, creio que pelo menos a maioria, ficando os adiantados para viverem um novo dia, buscando cada qual o que deseja ou precisa e no meu caso, ambos, pois não saberia viver sem colocar no papel ou no computador, minhas sensações pessoais sobre tudo que vivencio, numa busca quase que frenética de não deixar passar batido, meus instantes existenciais.
Por que, registro assim desde ainda garota?
Talvez pela solidão de ser filha rapa do tacho, talvez pelo excesso de paixão pela vida, talvez porque percebi ainda muito jovem que a memória falha ou se confunde com a profusão de informações recebidas num só dia. Talvez, pela vaidade de querer deixar a minha visão crítica sobre tudo, talvez pela loucura pessoal de querer através da escrita, buscar conhecimentos sobre o que me desperta curiosidade ou simplesmente acontece.
Mas afinal, o que importa ou a quem importa o fato de não passar um só dia em que eu, pelas madrugadas ou a qualquer hora, me impulsione a escrever, numa compulsão sadia, pois em sua maioria me instrui sobre mim mesma, aliviando as dores abusivas e presentes, pelo simples fato de existir e ter que conviver?
Só a mim mesma, creio ...
Descobri que não há terapia mais saudável que a escrita, pois, mergulho em meu interior, numa constante busca de conhecimento pessoal, por divergir de pronto da afirmação que minha mãe repetia como um mantra de que eu precisaria estudar para ser “alguém”, era falha e sem sentido, porque afinal, sempre me senti “um alguém”, se bem que precisando me situar, fosse onde fosse.
Hoje, ouvindo a chuva como fundo musical de mais esta cena de meu teatro pessoal, percebo com nitidez que jamais poderei deixar de escoar meus excessos mentais do quase tudo que meus sentidos vigorosos sugam do também tudo mais, levando-me a fazer da escrita, minha vazante cotidiana, mantendo um certo equilíbrio das marés dos meus conhecimentos e curiosidades, com a constatação absurda e dolorosa da minha massacrante ignorância em relação também a quase tudo.

É madrugada, chove pesado lá fora e faz frio também.

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