A chuva
pesada desaba lá fora e mesmo estando a casa toda bem fechada, não me sinto
aquecida, pois há um frio jamais sentido nesta tão amada Itaparica,
costumeiramente calorenta por ser abusadamente ensolarada.
Todos ainda
dormem, creio que pelo menos a maioria, ficando os adiantados para viverem um
novo dia, buscando cada qual o que deseja ou precisa e no meu caso, ambos, pois
não saberia viver sem colocar no papel ou no computador, minhas sensações pessoais
sobre tudo que vivencio, numa busca quase que frenética de não deixar passar
batido, meus instantes existenciais.
Por que,
registro assim desde ainda garota?
Talvez pela
solidão de ser filha rapa do tacho, talvez pelo excesso de paixão pela vida,
talvez porque percebi ainda muito jovem que a memória falha ou se confunde com
a profusão de informações recebidas num só dia. Talvez, pela vaidade de querer
deixar a minha visão crítica sobre tudo, talvez pela loucura pessoal de querer
através da escrita, buscar conhecimentos sobre o que me desperta curiosidade ou
simplesmente acontece.
Mas afinal,
o que importa ou a quem importa o fato de não passar um só dia em que eu, pelas
madrugadas ou a qualquer hora, me impulsione a escrever, numa compulsão sadia,
pois em sua maioria me instrui sobre mim mesma, aliviando as dores abusivas e
presentes, pelo simples fato de existir e ter que conviver?
Só a mim
mesma, creio ...
Descobri que
não há terapia mais saudável que a escrita, pois, mergulho em meu interior,
numa constante busca de conhecimento pessoal, por divergir de pronto da
afirmação que minha mãe repetia como um mantra de que eu precisaria estudar
para ser “alguém”, era falha e sem sentido, porque afinal, sempre me senti “um alguém”,
se bem que precisando me situar, fosse onde fosse.
Hoje,
ouvindo a chuva como fundo musical de mais esta cena de meu teatro pessoal,
percebo com nitidez que jamais poderei deixar de escoar meus excessos mentais
do quase tudo que meus sentidos vigorosos sugam do também tudo mais, levando-me
a fazer da escrita, minha vazante cotidiana, mantendo um certo equilíbrio das
marés dos meus conhecimentos e curiosidades, com a constatação absurda e
dolorosa da minha massacrante ignorância em relação também a quase tudo.
É madrugada,
chove pesado lá fora e faz frio também.
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