segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

O TEMPO NÃO PARA
Faltam quatro dias para que 2015 se encerre e eu percebo, não sei se também com quem me lê, neste instante, que aquela euforia da proximidade de um novo ano em que se vivenciava no passado, já não acontece com a mesma ênfase, dando a impressão que até o Natal tem perdido um pouco de seu brilho e simbolismo.
Lembro-me que buscávamos fechar tarefas e pendengas, a fim de começar um novo ano com novas perspectivas e realizações e não como vem acontecendo sistematicamente, principalmente no mundo em que não temos acesso opcional de decisões, como por exemplo na política, levando-me a observar que de uma forma ou de outra, somos também silenciosamente induzidos a agir da mesma forma, empurrando com a barriga, pequenos e grandes problemas para o ano seguinte, contando somente com o tempo, que além de não parar, costuma ser solução pra inúmeras situações de nossas vidas, afinal, junto com ele, vem fatores circunstanciais que de uma forma ou de outra pontuam, enfraquecem e até mesmo encerram.
Não sei bem porque estou escrevendo sobre isto, talvez porque eu já não aguente mais as armações ilimitadas, caracterizadas por um cinismo criminoso e despudorado que tomou conta das condutas de nossos representantes, seja em qualquer área da vida pública, e aí, fico me perguntando se seremos capazes de evitar que nossos jovens se espelhem em tamanho absurdo se desde o amanhecer até o final do dia, em todos os meios possíveis de comunicação, o curso intensivo que recebem é o da vergonha nacional que, afinal, sempre, também de uma forma ou de outra, faz o malandro se dar bem.
Não há nada mais sem propósito que um delator ter sua pena reduzida e, ainda, ir cumprir pena em suas lindas e luxuosas residências, todas compradas com o dinheiro roubado dos cofres públicos, ao lado de seus familiares, enquanto nas cadeias, ladrões, assassinos e estupradores que a eles se igualam, se amontoam em celas fétidas e a população sofre nos saguões dos hospitais públicos, nas salas de aulas sem qualquer estrutura decente, tanto para alunos como para professores, e o país afunda na mais crítica das condições.
Que leis são essas com dois ou mais pesos a depender do grau hierárquico e econômico de seus habitantes?
Que Constituição é esta que há 27 anos diz garantir uma democracia e os direitos dos cidadãos, mas abre espaço protetor para todo e qualquer mantenedor da fome, da miséria e do constante abandono social que são os argumentos contrários à qualquer ato democrático, dependendo tão somente da expertise dos advogados de defesa e da interpretação final dos juízes, infelizmente muitos ainda comprometidos com a velha forma clientelista que tanto atrasou e prejudicou o avanço social do país.
Lá fora, onde verdadeiramente a Constituição é considerada a Carta Magna de seus países, na proteção de seus cidadãos, não há com certeza plenitude de direitos, mas falhas e distorções são problemas que encontram celeiros de discussões em busca de soluções reais, enquanto em nosso país, nossos líderes empurram sistematicamente para um depois, com total apoio constitucional e nós abestalhados sempre de plantão, vamos engolindo nem sempre a seco, pois afinal, falta-nos a consciência de nossos próprios direitos e a honradez de uma dignidade cidadã que se perde em meio aos valores invertidos com os quais somos por todo o tempo aliciados a admirar.
Precisamos urgentemente de um número maior de artífices de qualidade que garantam os nossos direitos, fazendo a Constituição de 1988 realmente ser um respaldo de garantias ao nosso tão abandonado povo brasileiro.
Até quando, o verão, os trios elétricos, as piadas e o nosso sempre bom humor darão um jeitinho brasileiro para conter a fome, a violência e a pouca vergonha constitucional?

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