quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

SEMPRE IGUAL



Eta mundão velho, onde a cada dia torna-se mais e mais impossível uma convivência menos traumática, num paradoxo jamais visto.
O véu das camuflagens empanam sentimentos e emoções, preferências e realidades, num frenesi em favor das “aparências”, num me engana que eu gosto, absolutamente danoso e nos transformando em baús de pólvora, sempre prontos a explodir.
Ferimos de morte nem que seja com a nossa omissão, a ética pessoal, numa tenacidade sem qualquer consciência de que, agindo assim, estimulamos a prática do mau caratismo que sufoca também de morte posturas que nos parecem fora de moda, coisa do passado, numa era onde ser decente, sincero e amigo, só é permitido aos fracos e medíocres.
E assim, vestindo trajes de seriedade, concordância e mentiras, convivemos aos trancos e barrancos, por todo o tempo, tentando nos desviar das constantes explosões que surgem em forma de traições, intolerâncias, preconceitos, cotidianas violências que também vamos aprendendo a praticar como forma primária de defesa, num ciclo vicioso que só faz crescer.
E então penso que vivemos num retrocesso emocional em prol de um progresso material e que velhas e arcaicas são estas posturas que me remetem a histórias antigas da humanidade onde o cérebro só processava uma lógica, que era o de tão somente ser um tradutor e executor dos sentidos que lideravam a expertise da sobrevivência a qualquer custo, valendo-se da força, tendo como recompensa os prazeres da esbórnia e do orgasmo.
Exagero, pessimismo?
Basta que se permaneça por algum tempo como observador para se perceber a fragilidade humana travestida de modernismos, direitos e liberdade, servindo de suporte ao feio, pobre e mentiroso convívio de qualquer natureza.
2016 - Ano eleitoral, os mesmos atores entram em cena e os velhos personagens ressurgem representando seus já bem decorados papeis e nós, como público fiel, aplaudiremos, para mais adiante vaiar e também numa simbiose para lá de doentia, seguirmos em nome da esperança, acreditando que estamos evoluindo e que tudo será melhor amanhã.
Quem disse?????


sábado, 23 de janeiro de 2016

INCRÍVEL PARADEIRO


Estou há algum tempo olhando fixo para as árvores, espreitando a imobilidade das mesmas, pois nem mesmo os coqueiros bailam e isto me parece incrível.
Percebo que o meu pedaço de universo resolveu dar um tempo em suas movimentações, abrindo espaço para uma enormidade de pássaros que, desta forma, se evidenciam em sua cantorias diversificadas, mas que no conjunto final, representam as boas vindas da vida, tão necessária para que, aos poucos, cada um de nós consciente ou não de suas presenças, possa ir tomando pé de um novo dia.
Se me contassem eu não acreditaria neste paradeiro dos céus e, obcecada, não desvio os olhos, na esperança de ser testemunha do retorno dos movimentos que trazem a bendita brisa que sempre me encanta, pois alisa-me por inteiro e atesta a minha paixão pela vida
A manhã lá vai clareando lentamente e, desta vez, sem brisas para recebe-la, sem o sol para traçar o seu caminho, apenas eu e os pássaros, teimosos e obstinados, permanecemos fiéis a observá-la.
Ouço alguns fogos sucessivos à distância e penso que também outro alguém já acordado saúda algo, será também a vida?
Incrível, nunca vi nada igual, o tempo está passando e tudo permanece imóvel e os galhos só balançam ao bailado dos pássaros que inquietos como eu com tanto paradeiro, sapateiam, numa dança agitada, como se quisessem, também como eu, chamar a vida ao cotidiano do qual já nos acostumamos, dizendo:

- Bom dia, bom dia, amada brisa, que tal iniciarmos mais um dia das nossas vidas!?!?!

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

TUDO SUPERFICIAL


Estou aqui neste amanhecer pensando na superficialidade das relações humanas no cotidiano e me questiono no quanto esta postura tem sido responsável pela crescente violência que vem assolando de forma cruel a criatura humana em seu habitat e as vidas no planeta em seu todo.
Este tema, certamente poderia se transformar em uma riquíssima tese de doutorado, todavia, na simplicidade de meus recursos acadêmicos, estou limitada ao meu senso crítico em comunhão ao sempre hábito de observar tudo e a todos, num exercício em busca de uma compreensão maior da existência, afora o que me foi ensinado pelos meios religiosos de que se existo, foi por vontade de Deus.
O mesmo Deus que dá é o que tira, seja a vida, a alegria, a disposição, os ganhos e as perdas de quaisquer naturezas e por sempre achar esta explicação muito medíocre para a atuação de um Deus criador que na realidade o transforma num mero ditador, faço então, desde sempre, o caminho inverso, acreditando que a existência dos seres vivos tenha uma conotação mais responsável, criativa e autônoma.
Confesso que esta crença pessoal de que o Deus no qual acredito é na realidade como um pai orientador e que sua presença constante em nós depende unicamente da afinidade que se desenvolva também desde sempre em nossos cotidianos de pensantes humanos, dá-me uma sensação extremamente agradável de plena liberdade, fazendo de mim, não uma filha acorrentada à vontade de um pai déspota, mas oferecendo-me a satisfação de tê-lo como um mentor experiente, um parceiro amigo.
Não posso trata-lo com a superficialidade de um simples gerador de vida e tão pouco creditar a ele minhas perdas e fracassos, assim como não é justo tirar de mim as conquistas, levando-me a esquecer o meu profundo empenho para consegui-las.
Que pai, meu Deus, seria se me desse vida e livre arbítrio e, em seguida, me sufocasse com apenas a sua vontade, tirando o mais precioso atributo do raciocínio logico que é justo a escolha.
Acordamos e adormecemos fazendo opções, e uma delas tem sido fugir de nossas responsabilidades, buscando consolo no pai Deus, atribuindo à sua vontade, nossas mais absurdas escolhas, e assim, tirando por covardia que se tornou banal, o peso da responsabilidade de nossos atos, numa superficialidade sistêmica assustadora que vem se traduzindo em catástrofes e desmandos perante os céus, desde que seu poder criador nos fez existir e a capacidade de raciocínio, nos transformou em ignorantes covardes ou gananciosos dominadores.
Penso então, nesta manhã linda e ensolarada que, nada acontece por acaso, porque, afinal, tudo acontece por descaso, num ciclo vicioso, absolutamente, superficial e infeliz.


segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

O TEMPO NÃO PARA
Faltam quatro dias para que 2015 se encerre e eu percebo, não sei se também com quem me lê, neste instante, que aquela euforia da proximidade de um novo ano em que se vivenciava no passado, já não acontece com a mesma ênfase, dando a impressão que até o Natal tem perdido um pouco de seu brilho e simbolismo.
Lembro-me que buscávamos fechar tarefas e pendengas, a fim de começar um novo ano com novas perspectivas e realizações e não como vem acontecendo sistematicamente, principalmente no mundo em que não temos acesso opcional de decisões, como por exemplo na política, levando-me a observar que de uma forma ou de outra, somos também silenciosamente induzidos a agir da mesma forma, empurrando com a barriga, pequenos e grandes problemas para o ano seguinte, contando somente com o tempo, que além de não parar, costuma ser solução pra inúmeras situações de nossas vidas, afinal, junto com ele, vem fatores circunstanciais que de uma forma ou de outra pontuam, enfraquecem e até mesmo encerram.
Não sei bem porque estou escrevendo sobre isto, talvez porque eu já não aguente mais as armações ilimitadas, caracterizadas por um cinismo criminoso e despudorado que tomou conta das condutas de nossos representantes, seja em qualquer área da vida pública, e aí, fico me perguntando se seremos capazes de evitar que nossos jovens se espelhem em tamanho absurdo se desde o amanhecer até o final do dia, em todos os meios possíveis de comunicação, o curso intensivo que recebem é o da vergonha nacional que, afinal, sempre, também de uma forma ou de outra, faz o malandro se dar bem.
Não há nada mais sem propósito que um delator ter sua pena reduzida e, ainda, ir cumprir pena em suas lindas e luxuosas residências, todas compradas com o dinheiro roubado dos cofres públicos, ao lado de seus familiares, enquanto nas cadeias, ladrões, assassinos e estupradores que a eles se igualam, se amontoam em celas fétidas e a população sofre nos saguões dos hospitais públicos, nas salas de aulas sem qualquer estrutura decente, tanto para alunos como para professores, e o país afunda na mais crítica das condições.
Que leis são essas com dois ou mais pesos a depender do grau hierárquico e econômico de seus habitantes?
Que Constituição é esta que há 27 anos diz garantir uma democracia e os direitos dos cidadãos, mas abre espaço protetor para todo e qualquer mantenedor da fome, da miséria e do constante abandono social que são os argumentos contrários à qualquer ato democrático, dependendo tão somente da expertise dos advogados de defesa e da interpretação final dos juízes, infelizmente muitos ainda comprometidos com a velha forma clientelista que tanto atrasou e prejudicou o avanço social do país.
Lá fora, onde verdadeiramente a Constituição é considerada a Carta Magna de seus países, na proteção de seus cidadãos, não há com certeza plenitude de direitos, mas falhas e distorções são problemas que encontram celeiros de discussões em busca de soluções reais, enquanto em nosso país, nossos líderes empurram sistematicamente para um depois, com total apoio constitucional e nós abestalhados sempre de plantão, vamos engolindo nem sempre a seco, pois afinal, falta-nos a consciência de nossos próprios direitos e a honradez de uma dignidade cidadã que se perde em meio aos valores invertidos com os quais somos por todo o tempo aliciados a admirar.
Precisamos urgentemente de um número maior de artífices de qualidade que garantam os nossos direitos, fazendo a Constituição de 1988 realmente ser um respaldo de garantias ao nosso tão abandonado povo brasileiro.
Até quando, o verão, os trios elétricos, as piadas e o nosso sempre bom humor darão um jeitinho brasileiro para conter a fome, a violência e a pouca vergonha constitucional?

E SE NÃO HOUVESSE O AMANHÃ?


Neste janeiro, aqui pelas minhas bandas um novo galo surgiu, duelando no gogó com aquele velho galo que ouço a cada amanhecer, mas que reside à distância, enquanto, este outro, parece-me vizinho próximo.
Imaginem vocês que em meio a tantas controvérsias políticas e sociais, cá estou eu, tentando identificar de onde vem a cantoria de um novo galo e fazendo deste acontecimento a prioridade de minha atenção.
Que coisa, hein?!!
Pois fiquem sabendo que se eu não tivesse tido um amanhã, de que adiantaria a mim e ao mundo, qualquer maior das minhas atenções, pois o mundo com suas mazelas e grandezas, teria continuado a girar, e eu, teria perdido a oportunidade de buscar o belo que, afinal, nutre a vida e a todos nós, mesmo que sequer tenhamos tempo de priorizá-lo.
Ambos se calaram como uma pausa de partitura, abrindo espaço para outras cantorias que aparentemente parecem iguais a cada amanhecer, mas que na realidade se apresentam lindamente diversificadas como instrumentos variados de uma imensa orquestra, capaz de atrair e inebriar um dedicado ouvinte.
Penso no quanto seria gratificante para a convivência sistêmica e, portanto para a vida, se induzíssemos nossas crianças a desenvolverem seus benditos sentidos, fazendo de cada um, batutas sensíveis que determinariam a entrada harmoniosa de suas próprias emoções.
E aí, provavelmente estaríamos contribuindo enormemente para o equilíbrio pessoal que tanto se busca em versos, prosas e hoje, mais do que nunca, nos consultórios.
Portanto, viva o galo do vizinho que me proporcionou neste amanhecer mais uma agradável conscientização, pois, afinal, comigo ou “sem migo”, a vida sempre continuará e o que me cabe, portanto, é a capacidade de sorvê-la nas suas mais singelas importâncias que, certamente, me oferecerão sensibilidade suficiente para compreender o quanto posso ser útil sem, no entanto, perder as benditas pausas que abrem espaço a novos movimentos da melodia da vida.



COMO UMA IGREJA
O galo insistente canta à distância e, até o momento, nenhum pássaro ainda chegou para a iniciação de um novo dia, mas eu estou atenta aguardando num ritual diário e, enquanto aguardo, penso e repenso na vida também num ritual matinal que durante décadas tem servido de tarefa escolar de aprendizado cotidiano, onde tenho tido a oportunidade de refletir em minhas próprias atitudes, convencendo-me por todo o tempo que jamais poderei deixar de estar amorosamente vigilante, pois a força do sistema é poderosa e sempre pronta a me arrastar para o ilógico folclore do apenas ter.
Fui aprendendo com os pássaros e a natureza de um modo geral que a mais importante tarefa que eu deveria ter no exercício diário de viver, seria ministrar a mim mesma, cortando arestas desnecessárias que certamente me impediriam de simplesmente viver, abraçando cada instante com entusiasmo, beijando cada milionésimo de segundo com paixão de quem reconhece o verdadeiro valor de estar existindo.
Penso, assim, que sou como uma Igreja e que em meu interior, preciso guardar o meu Deus zelosamente, para que então, tudo e todos, incluindo eu, que em mim adentrar, encontre o consolo e se sinta em paz.
Tarefa difícil, aparentemente impossível, mas que aos poucos fui reconhecendo como agradável e plausível, pois foi fazendo de mim, um serzinho menos pesado em minhas passadas, foi tirando de minhas caminhadas, “aquelas pedras” aparentemente intransponíveis e por incrível que possa parecer, tem plantado flores e frutos nas margens de meu rio existencial, que, afinal, me alimentam e perfumam.
Mais um ano está chegando ao fim e o próximo já bate à porta e tudo que eu preciso fazer é abri-la com um largo sorriso, deixando o carinho do Deus que reside em mim, abraçar e beijar com verdadeiro fervor os novos tempos que o Ano Novo sempre traz consigo, possibilitando a mim uma sempre surpreendente renovação, por que, afinal, ele é a vida que é sempre, indiscutivelmente, bonita, irresistivelmente, bonita, apaixonadamente, bonita.
Viva 2016!!!!!
Viva eu e você que estamos vivos!!!!!!!

ESPLENDIDO GOZO

De onde surgiu o meu improviso, não sei precisar, mas, com certeza, sempre foi a minha mais autêntica realidade, custando-me em algumas ocas...