quinta-feira, 18 de junho de 2015

EU TINHA ORGULHO

 O dia sequer tinha amanhecido e eu já estava a todo vapor pensando no quanto talvez seja saudosista ou, quem sabe, apenas inconformada com o que venho testemunhando ao longo de minha vida em relação ao meu país.
De repente, respiro fundo e lembro dos meus tempos de aluna do ginasial do Colégio Maria Raythe, e do orgulho que tinha em representa-lo no Maracanãzinho, por ocasião dos jogos da primavera ou nos Sete de Setembro no centro do Rio de Janeiro.
Lembro-me com exatidão de detalhes da acirrada disputa há cada ano de quem iria carregar as bandeiras, fosse do colégio, da cidade ou do Brasil.
Lembranças de tempos em que  sentíamos orgulho de nossos colégios, cidades e pátria, respaldados por um sentido irresistível de pertencimento que nos fazia mais respeitosamente agregados a uma juventude que, mesmo presa a certas tradições posturais que, provavelmente, podavam passos mais arrojados, bem característicos dos jovens, certamente também nos estruturava, abrindo um leque de outras tantas posturas que, de um modo geral, preservavam o que de melhor a juventude podia produzir, e esta realidade, se expressa através dos legados que a mesma foi deixando ao longo das décadas, como pérolas que identificam um período de nossa história humana brasileira, onde proliferou o autenticamente belo que as mentes dos jovens dos anos 60 e 70 foram capazes de produzir em todos os aspectos intelectuais e artísticos
Perdemos a ingenuidade do idealismo, perdemos a certeza de nos sentirmos seguros, perdemos os laços que enfeitavam os momentos de romantismo, perdemos a crença em quase tudo.
Saudades de uma juventude que lia Monteiro Lobato, Mário Quintana, Drumonnd, Rilke, Dostoievisk, Neruda e que cantava Tom, Vinicius, Chico,
 que nos faziam sonhar e do cavaleiro Zorro que nos fazia acreditar que havia justiça nesta vida.
Lembranças de uma Ipanema que mais parecia um principado elegante de gente bonita que circulava livremente.
Saudades das matinês nos cines Pax ou Leblom, com mocinhos e mocinhas que estimulavam os sonhos.
Lembranças dos beijos apaixonados, dos amassos suados, do frio na barriga, das expectativas a cada encontro e da liberdade de ir e vir sem qualquer receio da meia luz.
Saudades de um tempo cercado de censuras, armas e repressões, mas que ainda sobrava espaço para se ser jovem e feliz.
 Saudade do meu Brasil que a tecnologia engoliu.

Lembranças do meu Brasil que me fazia sentir orgulho.

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