O dia sequer
tinha amanhecido e eu já estava a todo vapor pensando no quanto talvez seja
saudosista ou, quem sabe, apenas inconformada com o que venho testemunhando ao
longo de minha vida em relação ao meu país.
De repente,
respiro fundo e lembro dos meus tempos de aluna do ginasial do Colégio Maria
Raythe, e do orgulho que tinha em representa-lo no Maracanãzinho, por ocasião
dos jogos da primavera ou nos Sete de Setembro no centro do Rio de Janeiro.
Lembro-me
com exatidão de detalhes da acirrada disputa há cada ano de quem iria carregar
as bandeiras, fosse do colégio, da cidade ou do Brasil.
Lembranças
de tempos em que sentíamos orgulho de
nossos colégios, cidades e pátria, respaldados por um sentido irresistível de
pertencimento que nos fazia mais respeitosamente agregados a uma juventude que,
mesmo presa a certas tradições posturais que, provavelmente, podavam passos
mais arrojados, bem característicos dos jovens, certamente também nos
estruturava, abrindo um leque de outras tantas posturas que, de um modo geral,
preservavam o que de melhor a juventude podia produzir, e esta realidade, se
expressa através dos legados que a mesma foi deixando ao longo das décadas,
como pérolas que identificam um período de nossa história humana brasileira,
onde proliferou o autenticamente belo que as mentes dos jovens dos anos 60 e 70
foram capazes de produzir em todos os aspectos intelectuais e artísticos
Perdemos a
ingenuidade do idealismo, perdemos a certeza de nos sentirmos seguros, perdemos
os laços que enfeitavam os momentos de romantismo, perdemos a crença em quase
tudo.
Saudades de
uma juventude que lia Monteiro Lobato, Mário Quintana, Drumonnd, Rilke, Dostoievisk,
Neruda e que cantava Tom, Vinicius, Chico,
que nos faziam sonhar e do cavaleiro Zorro que
nos fazia acreditar que havia justiça nesta vida.
Lembranças
de uma Ipanema que mais parecia um principado elegante de gente bonita que
circulava livremente.
Saudades das
matinês nos cines Pax ou Leblom, com mocinhos e mocinhas que estimulavam os
sonhos.
Lembranças
dos beijos apaixonados, dos amassos suados, do frio na barriga, das
expectativas a cada encontro e da liberdade de ir e vir sem qualquer receio da
meia luz.
Saudades de
um tempo cercado de censuras, armas e repressões, mas que ainda sobrava espaço
para se ser jovem e feliz.
Saudade do meu Brasil que a tecnologia
engoliu.
Lembranças
do meu Brasil que me fazia sentir orgulho.
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