Os dias, os
meses e os anos se sucederam em minha longa vida sem que eu pudesse me sentir
verdadeiramente orgulhosa de um só político a quem, generosamente, doei o meu
voto. Se bem que comecei tarde, afinal, quando a ditadura militar foi
implantada, eu ainda era uma adolescente de apenas 14 anos e como em minha
família, próxima ou distante, não havia idealistas revolucionários, não cheguei
a sentir de perto os malefícios deste regime, até que, ainda muito jovem em
1978, trabalhando no extinto Jornal de Minas, em Belo Horizonte, ousei escrever
o que pensava, não dos políticos, pois nesta época já os mantinha em rigorosa
distância, por sabe-los capazes de quase tudo, pela árdua experiência com
muitos deles em Brasília e que alguns, ainda na resistência de seus físicos e
ganâncias pessoais, permanecem até os dias de hoje na ativa de seus desmandos, mas
sobre os relacionamentos humanos, as emoções cotidianas e as mazelas que nós
humanos éramos capazes de imprimir uns nos outros.
Certamente
escrevi os ABUTRES TAMBÉM CHORAM e, naturalmente, não só fui demitida,
como proibida de andar sobre a calçada de qualquer outro Jornal ou meio de
comunicação, o que garantiria, também naturalmente, minha sobrevivência, assim
como o cargo de diretor comercial de meu marido.
Como jamais
fui destemida ao ponto de perder o meu próprio chão, coloquei meu saco na viola
e fui cuidar de minha vida, explorando minha criatividade pessoal, até por quê,
já naquela época, sabia que solitária minha voz seria sempre inevitavelmente
sufocada, além de ter tido a sensibilidade em perceber que a minha praia de
interesses era o que menos importava, naquela época.
Aliás,
quando olho para esses preciosos anos vividos, decepciono-me ao constatar que
pouco ou quase nada, verdadeiramente, mudou em se tratando de política ou de
políticos, destacando apenas a criatividade dos petistas que, de uma forma
sistemática e apaixonada, insticionalizaram o mal caratismo que, afinal, sempre
permeou a grande e esmagadora maioria de nossos políticos.
Porém se me
decepcionei ou simplesmente jamais abracei causas que não me inspiravam
confiança, por outro lado, sinto-me em paz, por não tê-lo feito, já que a
história mostra que infelizmente eu teria sido mais uma a morrer ou a de uma
forma ou de outra me adaptar, atos pessoais que não me diziam nada mais que inconsequência
ou, o que seria pior, vergonha.
Cometi
erros, tropecei inúmeras vezes, alcei infindáveis vitórias e, acima de tudo,
permaneci livre para ser e para pensar, sentir e ponderar, para tempos depois
voltar a escrever, tudo quanto verdadeiramente vale a pena, pois há muito
compreendi que antes de tentar mudar o nosso sistema político e o caráter de
nossos políticos, teríamos que mudar posturas pessoais, interesses mesquinhos,
aprendendo a soletrar cidadania num despertamento do significado primário de bem
comum.
Foram horas
intermináveis em que pacientemente coloquei-me a ouvir as pérolas dos nossos
deputados Federais, assim como o lodo de todo um sistema falido e de um povo
enojado que, só soltando ratos para expressar o que palavras e sentimentos já
não conseguem.
Que merda de
CPI e justiça é essa de faz de conta?
Punir a quem,
se a corrupção se alastrou de tal forma, que nem os ratos conseguem sobreviver
a tamanha concorrência?
Enganar a
quem?
Talvez aos
poucos doze por cento de analfabetos e fanáticos que fingem achar que os meios
justificam os fins, principalmente, se seus interesses pessoais, não forem
alterados.
Ingênuo, só
mesmo no entender de quem, prefere o faz de conta de uma nação limpa de ratos e
heróis.
E pensar que
possuímos tudo para sermos bem mais que um celeiro de vergonha, mentiras e
engodos.
Nada, quase
nada mudou... Que pena, que desperdício...
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