Pela
primeira vez em décadas, sinto-me desmotivada em relação à política e seus
representantes. Não que seja incapaz de encontrar um ou outro que valha a pena eu
depositar algum tipo de credibilidade, mas porque, sinceramente, estou convencida
de que nós cidadãos é que precisamos reavaliar nossas posturas, porque, afinal,
os políticos são nossos reflexos.
Fico me
perguntando que tipos de políticos estamos buscando para nos representar, se
perdemos todas as nossas referências conceituais de limites em nossa
convivência sistêmica.
Foram-se os
parâmetros e o que ficou foi tão somente arremedos disto ou daquilo que dantes
se não eram os ideais, pelo menos eram contentores necessários a uma
convivência no mínimo menos agressiva. Naturalmente, falo em termos de maioria,
pois é certo que havia uma minoria também disto ou daquilo que não se sentia
amparada, mas também é sabido não existir homogenia total em absolutamente
nada, daí a grandeza das diferenças, assim como também é sabido que não se muda
conceitos arraigados na marra, sem que haja uma reação contrária, que pode vir
a ser devastadora, justo pela falta de base estrutural, que no nosso caso, está
intrinsicamente atrelada ao nosso falido sistema educacional.
Então, o que
podemos observar são disparates contínuos de todos os níveis em todas as
instâncias do sistema, sem que nenhum de nós seja capaz de avaliar devidamente,
pois o mundo está com pressa e sem rumo certo, restando-nos tão somente as
avaliações precipitadas, movidas e impulsionadas, principalmente por fatores
artificiais ou circunstanciais de momento, onde não residem maiores
aprofundamentos, e aí, refletimos no outro a nossa fragilidade, criando a
partir daí uma simbiose doentia entre nós e os nossos escolhidos, e como nos
reconhecemos neles, nos calamos e nos rendemos, já que para impedi-los, cassa-los
ou tão somente não escolhe-los, estaríamos contrariando a nós mesmos.
Se minha
teoria fosse assim tão absurda, como então, justificar através de explicações
mil, o fato concreto de que ao longo muitas vezes de toda uma vida, nos calamos
e nos rendemos a um ou a um bando de calhordas, ladrões e malfeitores das
causas públicas?
Por que
defendemos, colocando em risco estabilidade, credibilidade e até a própria vida
na defesa deste ou daquele, se não estivermos subjetivamente defendendo a nós
mesmos, já que é sabido o alto grau de defesa pessoal com a qual nossa natureza
animal é basicamente estruturada?
Não seria neste
ou naquele que nos enxergamos nos tramites dos nossos sonhos e ideais, mantendo
os olhos cegos aos seus desmandos?
Essa é a
única explicação para que alguns notórios criminosos, infratores da segurança
de milhões de pessoas, continuem a ser reeleitos, exibindo a cada eleição a
desfaçatez de nós mesmos que, afinal, sequer conseguimos manter um razoável
relacionamento com os nossos vizinhos ou dentro de nossas próprias famílias.
Se formos
comerciantes, roubamos nossos fregueses nem que seja no troco dos centavos,
espertamente lhe oferecendo balas, que de tanto serem dadas, tornaram-se moeda
corrente.
Se pudermos,
e chance nos for dada, roubamos do governo através de gatos, a água e a luz,
assim como nem os orelhões ficaram imunes a nossa criatividade criminosa, nem
que seja através de uma constante destruição dos mesmos.
Se
estivermos na fila de qualquer coisa, nos irritamos com os velhos, grávidas e
deficientes, que possuem preferência através de lei, porque nos sentimos os
tais, com direito a tudo e que os demais é que se danem, igualzinho a político
safado que não está nem aí, para os doentes nas portas dos hospitais e o tudo
mais que a mídia nos assola a cada instante e com os quais fingimos nos
horrorizar.
Dois pesos e
duas medidas por todo o tempo sem que haja qualquer noção de certo e de errado,
desde que esteja nos favorecendo.
Não é mesmo
assim?
Claro que
para compensar a culpa que nos assola, desenvolvemos o espírito hipocritamente crítico,
tornando-nos em alguns momentos, autênticos paladinos da justiça e dos bons
costumes, e em outras, nos agarramos ao Deus todo poderoso, fazendo dele nosso
constante estandarte.
Reparem que
nunca em tempos passados o brasileiro foi tão religioso e apegado ao “Senhor”.
E se o era,
era pra si e os seus, mas jamais se exibia ou agredia em nome deste mesmo “Senhor”.
E ganhar
dinheiro através dele, nem pensar...
Pura
heresia!...
Agora é
chique, bem...
Somos tão
religiosos e conhecedores dos princípios bíblicos e não conseguimos sequer ser
amáveis e respeitosos com aqueles que nos cercam.
Nos
arvoramos das sabedorias de rótulos, frases feitas e refrãos e saímos por aí,
acreditando tal qual os políticos que fabricamos, que tudo podemos naquele que
nos fortalece.
Estamos
vivendo nos limites da tolerância, por esta razão matamos tanto.
No limite do
amor, por esta razão nos entendemos cada vez menos.
No limite da
razão, por esta razão nos agredimos por todo o tempo, confundindo respeito às
alegações e opções diferentes às nossas com imposição ao que determinamos como
verdades que nos agradam.
Soterramos
nossas tradições culturais, importando uma miscelânea de culturas mundiais,
desprezando nossos conceitos milenares sem sequer qualquer tentativa em
modernizá-los adequando-os às inerências globais.
Fomos pelo
caminho mais cômodo, aparentemente mais fácil e adentramos num mato sem
cachorro que farejasse por nós uma saída menos traumática e, portanto, estamos
como baratas tontas, mais perdidos como cegos em meio a um acirrado tiroteio,
sem sequer sabermos aonde ir.