terça-feira, 11 de março de 2014

ESCOLHAS


Abro os olhos e posso enxergar a estrada que se estende diante de mim, longa, sem curvas e bem delineada e então, busco encontrar algum movimento  junto aos acostamentos ou até mesmo à distancia nas cercanias mas, absolutamente nada encontro, além de uma vegetação de serrado queimada pelo sol, sem viço e sem variantes de qualquer natureza.  Aperto os olhos e torno a abri-los na esperança de  conseguir enxergar um bicho ou algo que seja, mas nada, apenas o silencio de uma espécie de deserto e um marasmo assustador.
Assim eram alguns trechos da estrada Belém Brasília nos anos 70, um verdadeiro horror, mas eu estava lá, repleta de receios, aproveitando a solidão de centenas de quilômetros para ouvir os meus próprios pensamentos, acreditando no afã de meus 24 anos que os perigos e temores que me falaram, comigo não iriam acontecer, na inconsequência repetitiva de todos os jovens que se sentem imunes as desgraças.
O medo existia latente, apertando o estômago, acelerando os batimentos cardíacos a cada raríssimo automóvel em sua maioria caminhões que viam em sentido contrário, afinal, diziam que por lá existiam ladrões como o quê, mas ainda assim segui em frente, driblando os receios, agarrando-me a necessidade de ir mais além, de sair do lugar comum, de conhecer novas paragens, novas culturas, mais eu mesma.
Quando cheguei a “Conceição do Araguaia”, no Pará em plena ditadura militar, depois de cruzar com inúmeros jipes de soldados do exercito sem poder sequer respirar  normalmente, diante do pavor da truculência que eles representavam, senti-me segura e amparada naquela então pequena vila de poucas casas e um único hotel familiar. Que loucura!!!! Que calor, meu Deus!!!!!
Foram 17 dias de aprendizado e de imensas descobertas humanas e gastronômicas, inclusive as belezas das cerâmicas Marajoaras feitas pelos índios locais com os quais pude conhecer o autêntico comportamento civilizado.
E olha que já naquela época, o homem branco com sua civilização bestial, já os estava minando há tempos.
São 15.00 horas desta linda terça-feira e sinceramente, não saberia explicar porque me lembrei desta viajem tão especial, já que estou neste paraíso tropical, mas talvez seja exatamente por não compreender até o momento, o porquê das pessoas prenderem seus pés a  chumbos imaginários que as impedem de percorrer estradas, ora desertas ou não, mas todas com certeza, repletas de vidas pulsantes, escola viva que nos ensina e nos abastece.
E aí, não pensem que eu estava sozinha, pois a meu lado, sentindo os mesmos temores, mas também as mesmas emoções, estava ele, o meu amor, tão louco quanto eu, tão querendo conhecer mais da vida, assim como eu.
Penso então, que tudo valeu a pena e que agora, tudo que vier é só mais e mais lucro, porque, nossa escolha foi capitalizar vida, conhecimentos e amor, o dinheiro, bem... Preferimos deixar a cargo das pessoas sérias, espertas e descoladas.

E lá se vão quarenta anos e nós aqui juntinhos, contando para vocês, esse pedaço de nossa história. Que maravilha!!!!!


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