Abro os olhos e posso enxergar a estrada que se estende
diante de mim, longa, sem curvas e bem delineada e então, busco encontrar algum
movimento junto aos acostamentos ou até
mesmo à distancia nas cercanias mas, absolutamente nada encontro, além de uma
vegetação de serrado queimada pelo sol, sem viço e sem variantes de qualquer
natureza. Aperto os olhos e torno a abri-los
na esperança de conseguir enxergar um
bicho ou algo que seja, mas nada, apenas o silencio de uma espécie de deserto e
um marasmo assustador.
Assim eram alguns trechos da estrada Belém Brasília nos anos
70, um verdadeiro horror, mas eu estava lá, repleta de receios, aproveitando a
solidão de centenas de quilômetros para ouvir os meus próprios pensamentos,
acreditando no afã de meus 24 anos que os perigos e temores que me falaram,
comigo não iriam acontecer, na inconsequência repetitiva de todos os jovens que
se sentem imunes as desgraças.
O medo existia latente, apertando o estômago, acelerando os
batimentos cardíacos a cada raríssimo automóvel em sua maioria caminhões que
viam em sentido contrário, afinal, diziam que por lá existiam ladrões como o
quê, mas ainda assim segui em frente, driblando os receios, agarrando-me a
necessidade de ir mais além, de sair do lugar comum, de conhecer novas paragens,
novas culturas, mais eu mesma.
Quando cheguei a “Conceição do Araguaia”, no Pará em plena
ditadura militar, depois de cruzar com inúmeros jipes de soldados do exercito
sem poder sequer respirar normalmente, diante
do pavor da truculência que eles representavam, senti-me segura e amparada
naquela então pequena vila de poucas casas e um único hotel familiar. Que
loucura!!!! Que calor, meu Deus!!!!!
Foram 17 dias de
aprendizado e de imensas descobertas humanas e gastronômicas, inclusive as
belezas das cerâmicas Marajoaras feitas pelos índios locais com os quais pude
conhecer o autêntico comportamento civilizado.
E olha que já naquela
época, o homem branco com sua civilização bestial, já os estava minando há
tempos.
São 15.00 horas desta linda terça-feira e sinceramente, não
saberia explicar porque me lembrei desta viajem tão especial, já que estou
neste paraíso tropical, mas talvez seja exatamente por não compreender até o
momento, o porquê das pessoas prenderem seus pés a chumbos imaginários que as impedem de
percorrer estradas, ora desertas ou não, mas todas com certeza, repletas de
vidas pulsantes, escola viva que nos ensina e nos abastece.
E aí, não pensem que eu estava sozinha, pois a meu lado,
sentindo os mesmos temores, mas também as mesmas emoções, estava ele, o meu
amor, tão louco quanto eu, tão querendo conhecer mais da vida, assim como eu.
Penso então, que tudo valeu a pena e que agora, tudo que
vier é só mais e mais lucro, porque, nossa escolha foi capitalizar vida,
conhecimentos e amor, o dinheiro, bem... Preferimos deixar a cargo das pessoas
sérias, espertas e descoladas.
E lá se vão quarenta anos e nós aqui juntinhos, contando
para vocês, esse pedaço de nossa história. Que maravilha!!!!!
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