MENSAGEM
Sentada frente ao mar com os olhos bailando por tamanha beleza e
estando cercada de inúmeras outras criaturas que, como eu, também são aficcionadas
nas grandezas desta natureza primorosa, coloco-me a pensar na solidão do exclusivismo
de meus neurônios, no quanto o ser humano é capaz de compreender algumas
belezas e, simplesmente, desconsiderar a
maior de todas, que é o próprio ser humano no qual representa.
Incrível! Ainda em silêncio, desvio
o olhar e vou, então, focá-los em uma por uma, observando seus traços
fisionômicos, o tom de suas vozes, a ligeireza de seus racionais, os contornos
de seus corpos nas diferentes etapas cronológicas, alí tão expressivamente
representado e, lentamente, alterno o olhar em cada criatura e em seguida no
mar, como se alternasse goles de vinho diferenciados e para poder senti-los sem
confusões, bebesse água pura para lavar o paladar, que neste caso é o mental.
Vez por outra, respiro fundo, ensaio
em piscar mais lento dos olhos, como que para adequar a profusão de informações
que meus olhos e energias, são capazes de captar.
Um almoço? Apenas uma reunião de
velhos amigos, sendo eu a única estranha?
Talvez a olho nu, mas a experiência
sempre me direciona a uma percepção mais profunda em relação as minhas idas e
vindas sistêmicas, fazendo crer sem qualquer dúvida que na realidade cada dia,
cada encontro, sempre tem como propósito, levar-me a mais um pouco de vivência,
onde posso, então, como aluna dedicada, alçar graduações mais avançadas nesta
minha universidade perpétua, onde a minha própria evolução vai se consolidando,
aparando arestas que insistentes bloqueiam das evolutivas nesta
expressabilidade de vida na qual me vejo e me sinto inserida.
Desvio o olhar para o meu próprio
interno, em seguida, venho para fora e me enxergo na presunção de um ser que
crê tudo ou quase tudo já ter visto e consequentemente aprendido e, de repente,
meu ar foge de mim por milionésimos de segundos, momentos necessários para que
mais uma vez eu perceba que nada ou quase nada ainda sei e no quanto ainda
tenho a aprender para compreender a complexidade do humano em sua relação consigo
e com a vida.
O mar continua lá na sua aparente repetição
de movimentos, coberto pelo céu amparador de não menor força e beleza, e lá estou eu,
aparentemente igual, fazendo o que mais gosto e preciso que é justo apreciar,
mas dissecando a vida em um frenesi compulsório de tudo dela absorver.
Levanto-me e vou embora, não sem
antes dar mais uma olhadinha neste mar bendito que me ensina, me abriga e me
fascina.
Existem formas variadas de
possibilidades de se enxergar as energias, e uma delas é no fechar dos olhos,
deixando-se a alma como fotógrafo da vida ininterrupta que, insistente, cria
vida através da vida.
(conclusão ocular)
Que esta
sexta-feira, linda de ainda verão, você seja também capaz de fechar os olhos
para enxergar a si mesmo, buscando compreender o seu lugar neste mundo de “meu
Deus”, sem qualquer medo ou receio de apenas ser feliz, na certeza absoluta que
a vida é bonita, é bonita e é bonita.
Regina Carvalho,
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