sexta-feira, 30 de agosto de 2013

APENAS O MAR...


O corpo estremeceu, enquanto os olhos aflitos buscam na amplitude do horizonte que se descortina, o abraço aquecido desta manhã ainda que meio adormecida, mas já ostentando ao longe fachos luminosos que, de tão longos, chegam até bem próximo de mim, fazendo-me instintivamente querer pegá-los, ficando minhas mãos tateando um aparente nada.
Afundo ainda mais o meu corpo, deixando-me envolver totalmente sem qualquer receio ou preconceito pela ausência de sol ou da possibilidade em me sentir solitária em meio a esta imensidão na qual me entrego, sorvendo tão somente a força emanativa, assim como me deixando dominar pela racionalidade da certeza de que, se ele decidir não me libertar, não reagirei, pois tudo serei e tudo poderei.
Que poder é este que me fascina, me atrai e me apaixona?
Que força é está, da qual não posso e não quero resistir?
Que abraço é este, no qual me deixo envolver e por instantes que me parecem eternos, faz de mim a criatura mais completa do universo?
É chegada à hora de partir e enquanto emergia de mais esta entrega alucinante, sinto-me alisada pelo escorrer das águas em meu corpo, como se mil mãos aveludadas existissem, arrancando de mim novos arrepios e, sem qualquer pudor, sorrio, afinal que se dane o mundo, estou feliz e nada, absolutamente nada, será mais forte que a força desta paixão .
E então, já caminhando nas areias ainda frias desta manhã que sequer desabrochou por completo, percebo-me envolvida, amada e totalmente possuída, e novamente sem qualquer pudor, sorrio e dou de ombros, seguindo em frente ao encontro do cotidiano, chato, às vezes feio e cruel, mas que eu consigo transformar em tolerável, por que eu sei que, amanhã, lá no mesmo lugar ele estará me esperando e ai, bem... o que posso querer mais?
Bendito mar pelo qual me apaixonei.
Bendita vida pela qual me deixei abraçar.
Benditas emoções que fazem, de mim, um ser livre.
Que se dane, então, o cotidiano repetitivo e vez por outra, feio, banal, cruel e, pelo amor de Deus, tudo quanto em nossa estreiteza amorosa , somos capazes de produzir.
Que se dane quem tendo o mar não o enxergue.
Quem o enxergando não se entregue.
Quem se entregando, não goze.
Boa noite !!!

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