terça-feira, 16 de setembro de 2025

REFLEXO INOPORTUNO

Estou aqui pensando neste amanhecer menos frio e percebo que não há nada mais terrível, numa sociedade de valores arcaicos e fragilizados, do que ter um líder que constantemente cutuque o que ainda resta da consciência crítica, aquela que, em geral, contraria interesses de grupos e de indivíduos.

Esse tem sido o adubo que, de forma equivocada, vem nutrindo desde sempre o fértil canteiro do nosso Brasil que é um país rico, belo e repleto de possibilidades em cada cidade, por menor que seja. Isso acontece quando o povo escolhe, reiteradamente, reeleger o inapropriado, apenas para prolongar, com garantias constitucionais, por mais quatro anos, a impunidade de líderes que escancaradamente vilipendiam os mais sagrados direitos em todos os níveis e naturalmente os seus interesses pessoais ou pura incapacidade avaliativa. Depois, disfarçam e justificam as suas apropriações indevidas com pequenas obras, financiadas em grande parte por emendas parlamentares: pracinhas, festas estrondosas e outros agrados ao gosto popular. A multidão, distraída, nem se apercebe de que, em termos de qualidade, nada realmente recebe, já que o lixo só se agiganta nos mesmos lugares, os materiais das obras são de terceira categoria e os serviços públicos continuam piorando.


segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Serração

Faz tempo, aproximadamente trinta e dois anos que eu não apreciava uma serração tão densa, acompanhada de um frio penetrante que parece congelar os ossos. Lembra-me muito dos invernos que vivenciei, durante oito anos seguidos, em Caeté-MG, precisamente aos pés da Serra da Piedade.

Rapaz… a coisa é feia!

Por outro lado, acordar e ter, diante dos olhos, uma natureza tão vibrante, através dos verdes variados das frondosas árvores, é para mim uma verdadeira glória. Algo que me faz esquecer de tudo o mais, inclusive abrindo espaço em minha paciência para que um dos gatos da minha filha insista em passear pelo teclado do notebook, querendo ser notado a qualquer custo.

Penso, então, que nesta vida é preciso estar tão vibrante quanto ela, a própria natureza. É preciso não titubear em senti-la plenamente, trazendo para si o óbvio, aquele que na maioria das vezes, sequer é enxergado. E posso garantir, por experiência própria, que esses detalhes simples são espetaculares: verdadeiras preces que preenchem vazios, estimulam a criatividade e, com certeza, fazem bem à alma. Afinal, ao fazê-la sorrir, sorrimos também.

Bom dia! Que esta segunda-feira seja, tão somente, o início de uma semana incrivelmente bendita.

 Regina Carvalho – 15.9.2025, Pedras Grandes, S.C



domingo, 14 de setembro de 2025

Ó DO BOROGODÓ

O domingo amanheceu, e lá estava ela: a palavra borogodó, tilintando na minha mente. Achei curioso, afinal, trata-se de uma palavra antiga, hoje pouco falada, mas que resume tudo de bom que alguém pode ter, sem maiores explicações. Quem tem borogodó não precisa de atributos estéticos exuberantes para se destacar: atrai atenções de forma natural, roubando a cena em qualquer lugar.

Como boa curiosa, fui pesquisar no “Google” a sua origem. Já sabia tratar-se de uma expressão popular, mas não há consenso sobre a região em que nasceu. A verdade é que a irreverência do povo brasileiro deu à luz a esta e a tantas outras gírias, incorporadas ao nosso jeito exclusivo e malemolente de ser e de falar.


ADÁGIO PESSOAL

Sempre me encantei pelo adágio, essa composição musical que caminha devagar, mas não arrasta; que se demora sem nunca perder a suavidade. Descobri mais tarde que significava apenas um andamento lento, mas, para mim, sempre foi mais que isso: um convite ao silêncio, ao tempo alargado, ao respirar com calma.

Não sabia nada disso, confesso. Mas a curiosidade empurra-nos para o conhecimento como o vento empurra o barco. Assim fui crescendo, sem pressa, sem ruídos, ampliando horizontes. Fui deixando de ser a “bolhinha,” apelido que me magoava e que o meu Roberto me deu, porque julgava que eu vivia no mundo da lua, a pensar e a escrever apenas sobre pássaros e borboletas, quando na realidade, observava.


sexta-feira, 12 de setembro de 2025

MENTES CONDENADAS

Ouço neste instante Franz Liszt, através de um belíssimo solo de piano e inevitavelmente me vem à mente a minha decepção que só vem crescendo na medida que o tempo passa e cada vez mais, preciso medir minhas palavras, afim de não atingir este ou aquele segmento.

Sinto-me colocada num estreito corredor como mais um gado indo para o abatedouro com o único direito de seguir a diante, sem poder de escolha. 

Preciso a cada instante, trocar palavras, contornar ideias, desistir dos ideais e isso é  desesperador, ainda mais, porque não encontro nenhum aliado de luta, já que o cerceamento é geral, restando a liberdade de ser e de pensar, somente à aqueles que mesmo ostentando uma bandeira que foge aos padrões do auriverde, defendem uma nova Democracia que verdadeiramente, não me pertence, justo, porque nela,  não identifico a bendita coerência e liberdade na qual, me espelhei vida afora, onde pensar, mesmo contrariando fortes correntes da intelectualidade, fez crescer o senso crítico e consequentemente, o mundo e a humanidade.


quinta-feira, 11 de setembro de 2025

OLAMBENTA, JAMAIS...

Acordei com o coração incendiado pela ideia de que o maior presente que se pode dar a uma criança é fazê-la sentir o milagre de existir.

Ensinar-lhe que o corpo é morada sagrada e a mente, farol que ilumina.

Educar é convidar a perceber os sinais invisíveis do quotidiano aqueles que, de tão próximos, quase se tornam invisíveis.

Não importa a cor, o dinheiro, o lugar de onde se vem.


RENASCENDO DAS CINZAS

Foi bom enquanto durou, assim como tudo numa convivência amorosa. Afinal, até a mais tórrida das emoções acaba com a morte, oferecendo ao que fica a oportunidade de um recomeço. Porém, nem todos compreendem: muitos acreditam que recomeçar é simplesmente estar disponível para uma nova relação, sem antes criar um necessário intervalo. É nesse espaço que a solidão pode tornar-se uma oportunidade preciosa de recolher as partes de si que ficaram pelo caminho.

Dividir espaço, sentimentos e emoções, por mais intensos e proveitosos que tenham sido, absorve sempre uma parte do outro. É preciso resgatá-la para que haja um luto consciente e saudável. Só assim, se um novo amor surgir, ele será verdadeiramente original, criando emoções inéditas, e não uma mera cópia do anterior.


REFLEXO INOPORTUNO

Estou aqui pensando neste amanhecer menos frio e percebo que não há nada mais terrível, numa sociedade de valores arcaicos e fragilizados, d...