quinta-feira, 6 de novembro de 2025


 

DESUMANIZAÇÃO

Não sei você que me lê, mas eu, a cada dia, mais me recolho nos meus escritos, não por covardia, já que minha vida foi composta de atos contínuos, onde não cabia o medo; do contrário, jamais teria chegado até aqui tão inteira como me sinto, mas por pura prudência.

Medir cautelosamente os riscos é fundamental e, para tal, não me faltaram perspicácias sensitivas para senti-los, graças unicamente à bendita educação doméstica, que descortinou para mim, ainda criança, o comparativo de valores entre a natureza, Deus e eu.


quarta-feira, 5 de novembro de 2025


 

SEM PERDÃO

Que hábito doentio é esse que possuímos de endeusar determinadas figuras, retirando delas a bendita humanidade que poderia servir de espelho produtivo para nós e para os demais?

Como se o simples fato de deixar transparecer as mazelas apagasse, concomitantemente, as suas evidentes grandezas.

Ídolos públicos, sejam religiosos, políticos ou artísticos, pela vivência e complexidade, não estão isentos de cometer erros, de terem dúvidas e medos, ou mesmo de fazer escolhas pessoais que não se alinhem com o que se acha e se crê.

👇Formatação ilustrativa-IA


terça-feira, 4 de novembro de 2025




 

CARRAPICHO

São quatro e trinta desta terça-feira de novembro. O ano já se aproxima do fim e, em breve, mais uma vez, iremos festejar a chegada de um novo ciclo, deixando para trás perdas e danos, ainda que por alguns segundos, durante a contagem regressiva. Teremos em mãos uma bebida compatível com a realidade financeira deixada pelo ano que se despede e, na mente, apenas a esperança de um tempo melhor.

Enquanto esse momento não chega, arrastamos, cada qual, os embaraços ainda não resolvidos, assim como o cansaço e o desgaste, absolutamente reais, de mais um ano de nossas vidas. Inconscientemente, procrastinamos, amparados em argumentos que a nossa mente fértil cria para que não enfrentemos esta ou aquela questão que nos exaure mais do que as lutas diárias pela sobrevivência.

Penso no quanto somos repetitivos nas posturas, já que fazemos da esperança um lúdico engano. Afinal, se nada alteramos, como esperar reais mudanças?

Não seria essa insistência em prolongar o que já não faz sentido uma forma de sabotagem emocional, um jeito de driblar o medo do fracasso aos olhos do mundo, em detrimento do próprio interior, que dói e chora?

Tolamente, acreditamo-nos livres, festejando um novo ano que chega, ainda arrastando consigo a pesada bagagem das íntimas hipocrisias, como se fossem carrapichos.

A quem, afinal, enganamos?

Regina Carvalho — 4.11.2025, Tubarão SC