Existem observações que só podem existir se a criatura
estiver muito atenta, mas acima de tudo que seja capaz de tirar de si qualquer
resquício de preconceitos, críticas sistêmicas para, simplesmente, registrar
fatos que ocorrem no dia a dia e que retratam a vida cotidiana nos seus mais
variados universos.
Nesta semana, fui impelida a viajar duas vezes por dia de
Ferry Boat, coisa que há muito não fazia, pois confesso que ir a Salvador,
antes de ser um prazer em poder desfrutar de suas belezas, para mim é um
tormento, pois habituei-me ao sossego da minha Itaparica.
Voltando ao foco de meu relato, preciso dizer que apesar do
calor não amenizado pela refrigeração das novas embarcações, consegui ir
sentada e os banheiros estavam em condições razoáveis para serem usados, fui
devidamente orientada, quando necessitei, e talvez, por todas estas razões e
pela total falta do que fazer, concentrei-me nas pessoas e aí, bem...
Lá pela quarta viagem, percebi-me rindo e comentando com o
meu Roberto que, enquanto nas Universidades os temas para monografias, artigos
e teses se tornam muitas vezes repetitivos, bom seria se vez por outra os
professores fizessem uma ida e uma volta de Ferry com as mentes aguçadas para
depois sugerirem a seus alunos, porque, afinal, a fonte de manifestações
humanas é não só surpreendente, como extremamente rica e variada, despertando
em qualquer maior interessado, inspiração para teses riquíssimas, abrangendo uma
gama diversificada de cursos, principalmente, psicologia, filosofia,
sociologia, antropologia ou em qualquer outro em que o ser humano seja o
epicentro de análise ou simples narração.
E aí, torna-se mais razoável compreender a recorrente
situação em que o Brasil se encontra. O porquê de sermos enganados, roubados, espoliados
em nossos direitos mais básicos por mais de 500 anos.
Fica mais claro identificar esta aceitação passiva do
inadequado a cada instante, onde direitos e deveres se perdem frente a uma
total alienação político social.
Creio que o mais importante nos dias atuais, seria preparar
os nossos jovens para a capacidade observatória e ao estímulo à ética e a
cidadania, não com os refrãos já comuns, que poucos ainda consideram, mas com o
senso avaliativo da sua realidade pessoal em meio ao seu próprio universo vivencial,
acrescido de parâmetros reais, onde o certo e o errado, fosse substituído pelo
adequado, o lógico e o bem comum.
Enquanto alunos, somos levados a armazenar um turbilhão de
fatos, nomes e datas de épocas passadas e deixa-se passar a busca do
entendimento do aqui agora, seja em nosso país, seja ao redor do mundo.
Formam-se especialistas nisto ou naquilo, mas absolutamente
ignorantes em relação a si em meio a sua própria realidade de cidadão
brasileiro, profissional que terá de interagir com um sistema distorcido em
seus valores e falido em relação ao seu povo em se tratando de um mínimo de
conhecimento de sua história.
E aí, doutores e analfabetos se igualam no pouco ou nenhum
conhecimento em como se portar, pensar e conduzir suas posturas, seja no
público ou no privado, levando-me a relembrar da irreverência carioca que
classifica de samba de crioulo doido, furdunço ou seja lá outros nomes que não
me ocorrem agora.
Todavia, tenha o nome que tiver, tudo parece uma loucura se
bem observado. Ainda bem que também vez por outra, os olhos na procura de
alívio momentâneo, buscam as águas benditas da Baia de Todos os Santos, razão
certamente maior para que, até os dias atuais, nenhum motim mais expressivo
tenha ocorrido.
Pensando bem, tudo se resume em uma loucura com a aparência
de normalidade coletiva, que afinal aceitamos como se não justa, pelo menos, a
possível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário