quarta-feira, 21 de outubro de 2015

ACORDEI PENSANDO: Para que chorar?


São quatro horas da manhã e não estou acordada por insônia, jamais, apenas já dormi o tanto que minha natureza solicita e, naturalmente, prefiro escrever à qualquer outra atividade, até porque não posso colocar em prática algo que possa vir abalar este silêncio bendito, onde posso escutar a minha mente curiosa que está sempre questionando algo.
Ao acessar o facebook, mais uma vez pude ler a respeito da morte da atriz Yoná Magalhães, aliás, a cada instante, alguém morre longe ou bem perto de nós e, na sua maioria, sequer sabemos quem eram e qual a importância que estas pessoas tinham no seio de seus universos pessoais, apenas morrem e, neste caso, desconsideramos emocionalmente, dizemos algo apropriado à ocasião ou, como nos casos de pessoas famosas, lamentamos na proporção de nossas admirações.
Então penso na morte com uma naturalidade que afronta a muitos na medida em que não consigo vê-la como uma desgraça na vida de alguém, apenas como um capítulo que se encerra, como tantos outros que sequer consideramos, aí sim para espanto de pessoas como eu, que opta em reverenciar a vida em todas as suas mais singelas expressões.
Por exemplo, o fim de um relacionamento que começou bonito, repleto de promessas e planos e que, com o decorrer do tempo, ao invés de se fortalecer, se desgasta e se apaga, muitas vezes deixando brasas acesas que queimam as almas dos envolvidos e destrói emoções dos filhos que, no final das contas, pagam um tributo não devido a eles.
Penso também nas agressividades que proporcionamos aos demais pela arrogância de nossas posturas.
No prazer camuflado que sentimos ao assistir telejornais que exploram a desgraça humana nos seus mais cruéis detalhes, dando Ibope às mazelas que deveriam nos fazer chorar de vergonha.
São tantos os aspectos danosos que se direcionam à morte e que cultuamos em todos os setores da vida humana, inclusive nas angústias e muitas vezes dores profundas que infringimos aos outros, incluindo aqueles que dizemos mais amar e, de repente, quando o capítulo se encerra desta ou daquela criatura, seja humana ou não, choramos ou nos descabelamos, como se a morte não fosse a mais presente das certezas.
Particularmente, fico triste quando a cortina da vida se fecha para alguém na mais tenra idade ou de jovens no vigor de suas existências, seja por uma doença ou pela brutalidade da estupidez humana, mas não posso chorar por quem percorreu uma vida repleta de emoções boas que foram desfrutadas ou por dificuldades que foram suportadas e superadas, não por quem beijou, amou, contemplou auroras e por de sois, usufruindo de cada instante de vida.
A não aceitação da morte me remete a pensar que talvez não tenhamos a devida consciência da bendita vida, frente a ausência sistemática que imprimimos a nossa consciência em respeitá-la e cultivá-la na grandeza de sua real importância, evitando ferir, enganar, trair e o tudo mais que somos capazes de oferecer a nós mesmos, numa inconsequência assustadora como se esta, jamais fosse se acabar.
Não chorem por mim, jamais.
Pensem que amei, beijei e procurei ser fiel a tudo e a todos com os quais convivi, fazendo de minha vida não um plácido e monótono lago, mas um rio vivo e repleto de correntezas que me levaram a muitos lugares desconhecidos, mas que me garantiu duas benditas margens que me orientaram e não me permitiram sentir a solidão do abandono, aí sim, dolorosa morte de se sentir vivendo.
Então, para que chorar?


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