Acabo de
colocar um pudim de leite no forno, já pensando no almoço de amanhã e, enquanto,
aguardo o seu cozimento, percebo que o meu peito está um pouco sufocado, aliás
essa sensação vem me perseguindo há alguns dias e, naturalmente fui
desconsiderando, mas agora, resolvi encarar este mal estar emocional, afinal,
porque mantê-lo?
Olho ao
redor e todos estão com suas próprias atividades e nem mesmo os meus pássaros
estão fazendo qualquer ruído, como se tivessem ido dar uns bordejos ou
simplesmente, estão puxando um cochilo entre as folhagens ainda úmidas da chuva
desta tarde.
Meus cães
silenciosos me guardam como fiéis escudeiros e entre todos estes parceiros
cotidianos, cá estou eu, querendo entender a razão de meu sufoco e desta
impressão doída da minha indivisibilidade, trazendo-me a compreensão da
profunda solidão que se descortina, quando percebo empiricamente, que não sou
imortal e que, de um instante para o outro, posso deixar de sentir o perfume
das flores que carinhosas, nasceram constantemente, em todos os jardins de
minha vivência.
Que posso
deixar de sentir a leveza das águas mornas das praias que por toda a minha vida pude usufruir, que posso deixar de dar e receber abraços calorosos, beijos
amigos e apaixonados, que posso deixar de contemplar o céu, de sentir o sol
aquecendo o meu corpo ou de deixar de arrepiar-me com a aragem fresca de um
ventinho abusado.
De repente,
sem qualquer aviso prévio, o não desejado veio me visitar, puxando literalmente
o meu tapete da segurança de me sentir imortal e, como qualquer ser apaixonado
pela vida, baqueei e disfarcei, mas agora, entre meus escritos e meu sufoco,
liberto-me, desapegando-me da lamúria que, insistente, invade o meu coração,
fechando o meu peito e querendo tirar de mim, o melhor que cultivei e que, será
sempre a certeza absoluta de que, nada se acaba, tudo apenas, se renova.
E então, volto a me sentir imortal.
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