Após dias
muito chuvosos, o domingo amanheceu radiante, trazendo a luz translúcida do sol
do inverno, aquecendo e estimulando e, no embalo desta surpreendente manhã, fui
para a cozinha, entusiasmada à preparar um almoço especial para a família,
colocando na preparação, todo o meu empenho e amor, o mesmo que por toda a
minha vida coloquei nas minhas escritas e em tudo que procuro realizar, não que
eu seja especial, nisto ou naquilo, mas tão somente, consciente de que através
do que faço, seja lá o que for, certamente, estarei colocando o meu perfil de
pessoa humana.
Embalada
nesta reflexão enquanto refogo um arroz no alho e óleo, penso nas infindáveis
reclamações que recebo através de meu trabalho à frente da Rádio e do Jornal,
em relação aos abusos que elas são alvos nos hospitais e postos de saúde da
região, e penso então, que é surreal o quanto os mesmos estão despreparados humanisticamente
para o atendimento, principalmente em relação as pessoas mais simples e
humildes, no tocante aos seus poderes socioeconômicos.
Como encontrar
algum sentido na indiferença reinante, desde o recepcionista ao médico de
plantão, com raras exceções, que fere mais profundamente que a ferida exposta
da maioria que adentra nestes locais, no mínimo, buscando encontrar um pouco de
acolhimento?
Penso,
repenso, enquanto passo a colher revirando o arroz, tendo o cuidado de soltá-lo
do fundo da panela para que não queime, no quanto seria maravilhoso, se cada
criatura sofrida ao chegar nestes locais, pudesse encontrar, tão somente, um
sorriso, um oferecimento afetuoso, que apenas custa um singelo interesse,
remédio potência à maioria das chagas humanas.
Recepcionistas
alienados, médico que não os encara em suas dores e fraturas, enfermeiras secas
e apressadas, paredes frias que se confundem com a atmosfera de enfado, cansaço
e desilusão de se ter nascido pobre, numa região pobre, na maioria das vezes
ainda negro e com poucos conhecimentos quanto aos seus direitos, sufocado pela
certeza de não significar quase nada, menos até, que a dor que o levou a mais
aquele calvário.
Penso então,
enquanto desligo o fogo deste arroz fresquinho e cheiroso, que, infelizmente, a
culpa sempre é do paciente, que teimoso e chato, ficou doente e insiste em
receber atenção pelas suas chagas.
Que coisa,
hein!!!!
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