De um instante para o outro, uma situação, uma perda, uma imagem, uma palavra e a gente é tomado por um sentimento de vazio que, de tão profundo, chega a doer.
Neste instante, parece que o mundo se fechou ao redor de nós, não permitindo uma só brecha por onde possa passar uma faísca de esperança e, então, pensamos:
- Não suportarei...
Os instantes seguem seu curso natural e tempos depois, em sua maioria, sequer somos capazes de nos lembrar daquele instante ou episódio que por segundos ou horas e até mesmo dias e meses, invadiu a nossa mente e consumiu a nossa paz interior.
Essa bendita capacidade neurônica, abusadamente chamo de “Memória Traiçoeira”, porque, afinal, ela supostamente nos protege, induzindo-nos a um falso esquecimento.
Falso, porque na realidade, nada foi esquecido, tão somente mal guardado, o que nos leva a utilizá-lo dali em diante, num somatório contínuo às nossas atitudes.
Conscientemente, nada percebemos, mas o nosso reservatório emocional ao longo de nossa vivência vai absorvendo e, como falta espaço, também vai liberando, através de nossas posturas corriqueiras, e nesse ciclo ininterrupto, somos somatizados inconscientemente, e, então, passamos a repetir posturas que estimulam a repetição de emoções que nada mais são que buracos que se abrem entre o nosso dever de viver harmoniosamente e o nosso direito à compreensão de que tudo passa, tudo sempre passará.
Esse entendimento, quando despertado em nós, abre um campo fértil, dando-nos a serenidade observatória que revela, desmistificando também em instantes, as supostas constantes surpresas, que empanam os nossos instantes presentes, tirando de nós a serenidade do raciocínio lógico do nosso próprio bem querer, que afinal, é a única real proteção, antídoto que nos imuniza contra o ataque feroz das mazelas cotidianas.
Precisamos parar, olhar, observar, analisar, ponderar e, depois, partir para a ação, utilizando nossos poderosos sentidos, benditos sensores físicos, amigos fiéis do nosso grandioso emocional, numa parceria amigável, que se estende ao racional, sem que haja qualquer tensão, tudo muito natural, como a própria vida, que teimosos, esquecemos que existe em nós e que, na realidade, é tudo quanto verdadeiramente importa.
Mas não o fazemos, lançando mão de infindáveis justificativas que, aparentemente, são fundamentadas, e aí, com a sistematização comportamental, seguimos flagelando o nosso todo de criatura humana, responsabilizando a vida, confundindo-a com o sistema destroçado que ajudamos a moldar e a manter também a cada instante, com a nossa teimosia em não nos desapegarmos, seja lá do que for, em nome de qualquer falso sentimento ou argumento, camuflando a realidade com a qual estupidamente nos envergonhamos em admitir, porque somos induzidos por este mesmo sistema; que o que realmente importa é reverenciar cada amanhecer, cada instante, não como se fosse o último, tão somente, o único com o qual podemos, sem cerimônias, dizer:
- Amém.
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