Ainda me
lembro, parece-me que foi ontem e lá se vão quase 12 anos em que entusiasmada
com a beleza da cor do mar, associada à translucidez do sol, adentrei nesta
cidade, para não mais dela conseguir me distanciar.
E ir embora,
por quê?
Afinal,
tenho tudo que sempre procurei em todas as paragens que visitei, em todos os
redutos em que me aninhei.
Ir embora
pra que?
Se o tudo de
bom, foi por aqui que encontrei e o que eu trouxe comigo por aqui se
estabeleceu.
Abracei os
aromas, os sabores, as energias, abracei o mar, o sol e as pessoas e em momento
algum tentei modificá-las, com a arrogância natural dos que chegam de fora.
Como a maioria, cheguei esbaforida, trazendo
na bagagem mil ideias, mil vivências, esbarrei no atavismo, no desconhecido, no
diferente, tropecei na desconfiança, no medo dos que por aqui sempre estiveram.
Mas como
também cheguei fraca, doída e machucada, deixei-me conduzir e ser tratada
descansando a mente, equilibrando o coração, deixando entrar a paz do bendito
diferente.
E hoje,
recordando um pouco de tudo, sou obrigada a reconhecer que o diferente era eu,
que, sem pedir licença, fui me chegando, ocupando espaço, sem sequer perguntar se havia lugar na seara alheia, e como intrusa
absolutamente encantada, sequer pensei o que poderiam os donos da casa, estarem
aborrecidos com esta minha chegada, assim tão repentina, tão sem cerimônia.
Que coisa
absurda, hein?!
Imaginem
vocês, se mais incoerente e insensível fosse minha forma de ser, se ainda por
cima eu quisesse na rotina deles, inserir os conceitos e hábitos dos quais, eu
mesma, estava tentando fugir, mesmo que inconscientemente.
Pensando
bem, cá entre os meus botões, que diabo é essa necessidade cruel que nos induz
em quase todos os nossos instantes à tentar modificar o que nos cerca,
acreditando ferrenhamente, que somos os
sabedores do ideal alheio.
E aí, nos
ofendemos quando alguém, mais ousado, nos lembra sem piedade que somos de fora, ilustres forasteiros,
e aí, bem, ofendemo-nos, irritamo-nos, magoamo-nos, no entanto, somos obrigados a
admitir, nem que seja tão somente à nós mesmos, que fomos invasivos, arrogantes
e presunçosos em crer, mesmo que por um
único instante, que sabemos mais o que lhes convém.
O melhor que
fazemos é aceitar o que nos encantou, abraçando o tudo de bom, partilhando das
delícias, sempre prontos a oferecer o nosso melhor, sempre na medida em que nos pedirem, na proporção que nos
cabe, não esquecendo jamais que foi exatamente este diferente que nos atraiu.
Sou de fora,
sim senhor, mas vivo bem juntinho com os de dentro, chegando às vezes até mesmo
a me esquecer de que não sou daqui, que sou de lá, de um lugar que já não me
servia mais e que encontrei pelas bandas de cá, o não encontrado nas bandas de
lá, que foi justo, meu pedaço de chão, meu sentido maior de pertencimento.
Mudar as
coisas e as pessoas, então, pra quê, se exatamente o que me encantou, foi este
tudo aparentemente errado, que encontrei.
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