Dormi pouco,
mas dormi bem, e agora, sentada como sempre ao lado da janela da sala, posso
ouvir também, como sempre, os pássaros em suas visitas matutinas, lembrando-me
incansavelmente que a vida é bonita e é bonita, e naturalmente direcionando-me
a escrever sobre ela, sobre mim mesma e, é claro, sobre gente e seus valores.
E no que
ouço, penso, e no que penso, analiso, e no que analiso, constato, e constatando
inspiro-me e escrevo sempre buscando a coerência entre as palavras e os meus
sentimentos, sabedora que sou dos perigos das emoções, que arteiras, se
camuflam sempre prontas a oferecer seus toques pessoais que, afinal, mascaram as
realidades, redesenhando fatos e situações com seus imaginários, então,
confundindo-me.
Por que, estou
pensando em como penso?
Bem, talvez
porque eu esteja procurando uma forma de afastar pela lógica as minhas emoções,
antes de começar a pensar, analisar, constatar e me inspirar a escrever a
respeito da festa na qual estive presente, na noite de ontem, ou talvez esteja
apenas enrolando a mim mesma, por não ter encontrado ainda o fio exato da meada
e, deliberadamente, não queira me sentir
apenas uma narradora banal de fatos, hoje já não mais corriqueiros em meu
cotidiano.
Enquanto
escrevo o que penso, sou surpreendida pela chegada de minha filha à sala,
interrompo e me sinto absolutamente encantada com sua presença morena,
perfumada e gostosamente empolgada, por estar indo ainda tão cedo inscrever-se
num mestrado, repleta de ideais, no auge de sua deslumbrante juventude que egoísta
como toda mãe apaixonada que insiste em tentar reter a ideia da menina que
jamais cresceu.
Diante deste
quadro que começou a ser pintado em minha vida, há 26 anos, na bendita decisão
de ter mais um filho, já no auge dos meus 37 anos, volto a pensar no quanto a
vida é bonita e é bonita, e no quanto somos infinitamente ingratos ao desconsiderar
os pensamentos, as análises e as constatações da inutilidade da coisa e tal do
fútil que nos cerca, da ingratidão que nos tolhe a inspiração, do praticamente
nada que empana toda a grandeza de sermos coerentes nas escolhas e nos aceites,
nas negativas e nos talvez.
E penso,
então, que eu só queria escrever sobre a festa... Mas, afinal, será que eu não
escrevi?
Hum...
Penso que isto está me parecendo mais um discurso,
daqueles que falam de tudo um pouco e na realidade, não dizem nada.
Que coisa
hein!!!!!!!!!!