sexta-feira, 5 de julho de 2013

CORES QUE NÃO USEI


Em manhãs como esta, nada tenho definido ou predeterminado para escrever, apenas a vontade ou, talvez, uma forma de vício, vai se saber exatamente sobre este mistério que norteia os impulsos que escritores, músicos, pintores, enfim de todas as criaturas que de uma maneira ou de outra, expressam seus pensamentos, suas reflexões ou tão somente os instantâneos de seus cotidianos.
Sinto apenas ao acordar que a vida, incansável, já se encontra desperta e disposta sempre a me abraçar e eu, é claro, não me faço de rogada, afinal, vai que ela não goste de meu despertar e se vá de repente, deixando-me só, amargurada e sozinha.
Este é um risco que desde logo bem cedo decidi que não iria correr, já que também bem cedo, pude perceber o quanto ela, a vida, estava disposta  a me abraçar à cada amanhecer. Percebi também que além de parceira, ela, a vida, também era generosa ao trazer consigo, incansavelmente, perspectivas novas e algumas bastante surpreendentes, transformando cada encontro matinal em incontáveis cores que exigiram de mim apenas a boa vontade em retirar da bendita palheta e com os pincéis naturais que me acompanham delinear a forma de minha própria caminhada, sem, no entanto, prescindir dos cochichos inspiradores que ao pé do ouvido, da mente e da alma, ela, a vida, jamais deixou de oferecer.
Confesso envergonhada que nem sempre fui capaz de corresponder a esta preciosa companheira, desviei-me sim, pois como mais um modelo humano, fui incapaz de conservar-me na mesma tela de fidelidade, afinal, são tantos os apelos, as cores e as sugestões extras que a mente descortina que nem sempre fui capaz de resistir, mas também confesso que voltava rápido à tela básica que me era permanentemente oferecida por esta incansável parceira.
Generosa, compreensiva e extremamente paciente, sempre sorrindo a cada amanhecer com as mãos estendidas, oferecendo-me nova palheta com surpreendentes cores que também, confesso, jamais fui capaz de usar em sua totalidade, justo porque, reconheço-me limitada, ainda muito pouco criativa, e cá entre nós preguiçosa.
Nesta semana de um começo de inverno, a sempre disposta vida, além de sua bendita presença, ainda trás a cada dia consigo uma não menos bendita rosa, sempre esplêndida, erguida em sua resistente haste, visão primeira que me é oferecida ao chegar à janela, nestes meus amanheceres na companhia desta velha e fiel amiga.
 Observo que de uns tempos para cá, passei também a refletir na possibilidade dela me deixar, afinal, ela pode se cansar, adoecer ou se acabar e são tantas as cores que ainda não usei...
Que nesta sexta-feira, também você possa refletir sobre sua palheta de cores que generosa, a cada amanhecer a vida lhe oferece.


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Sou uma velha de 75 anos que só lamenta não ter tido aos 30/40 a paz e o equilíbrio que desfruto hoje. Sim é verdade que não tenho controle ...