Na medida em
que estou envelhecendo, percebo que estou também ficando muito egoísta,
exclusivista e todos os demais “istas” que possam existir e que sejam capazes
de desviar minha atenção de mim mesma.
Espalhei
espelhos pela casa e se passar por eles mil vezes, me olho e até dou uma
paradinha para observar melhor, e acreditem, não consigo me convencer que estou
envelhecendo e tão pouco que perdi o viço.
Que coisa,
hein!
Certamente
dirão muitos que me conhecem:
- Ela não
mais se enxerga.
Coitada...
Pois é, de
repente, será que perdi o senso avaliativo de mim mesma?
Qual nada!
Creio que jamais
me vi tão claramente, talvez por esta razão eu esteja valorizando cada detalhe
que dantes passou despercebido ou simplesmente, não avaliei na medida certa.
Hoje, cá pra
nós, me sinto e me vejo linda, gordinha e gostosa, feliz, inteligente, geniosa,
mas também muito carinhosa, cheirosa, rabugenta e super afetuosa e, para ser
bem detalhista, creio que sou tudo de bom!
Nossa...
Se também
enxergo as coisas ruins?
Será que as
tenho ou é você que as enxerga em mim?
Isso não
importa, não é mesmo?
Porque em
você, eu só enxergo e extraio também o tudo de bom.
Afinal, me
sinto solta, alegre e absolutamente livre, principalmente para falar da beleza
que encontro em mim e na felicidade de me sentir sem o peso angustiante das
ansiedades que devastadoras, em muitas ocasiões, fizeram com que eu só
enxergasse, ora com um defeito aqui, outro acolá, ou o que foi pior, não me
enxergasse, induzindo-me a crer que os modelos dos outros eram sempre os mais
bonitos e com mais sucesso.
Ah! E as
opiniões e críticas e os olhares alheios...
Estes me
aniquilavam, fazendo em certas ocasiões eu me sentir um cocô perdido na
calçada, enquanto os olhares maldosos enterravam-me no buraco fundo de minha
incapacidade pessoal de verdadeiramente me enxergar, tal qual a minha
realidade.
E qual era a
realidade?
Bem, a
realidade de um alguém em processo de vida, buscando, querendo, mas estando, no entanto, sozinha e desamparada,
justo por ainda desconhecer o próprio
potencial de megalomania tão necessário e talvez o único caminho possível para
que se possa olhar para si mesmo com paixão generosa e, acima de tudo,
controlando o medo pelo que vai encontrar.
Pois bem,
agora, ou melhor, já há algum tempo, estou apaixonada por mim e quanto mais me
admiro e subestimo os defeitos, mais e mais sou também capaz de enxergar a beleza
dos demais à minha volta, extraindo e sorvendo todas as qualidades e grandezas.
Jamais
imaginei que existissem tantas...
Como estou
em permanente estado de êxtase pessoal, tornei-me uma descobridora compulsiva de
gente bonita e aí, bem... Vou revelar um segredo pessoal e íntimo:
Sinto-me
apaixonada pela vida e em constante gozo. Sinto-me mais leve, mais doce, mais
encantada.
Penso então,
que viver apreciando as mutações constantes de si mesmo, não é ruim como me
fizeram pensar. Ruim, foi demorar tanto
para descobrir o quanto eu e a vida que residia em mim possuíamos para ser
apreciado.
Bendito egoísmo
que descobri em mim, que me privilegia e me faz feliz!
Feliz até
para perceber você, desejando-lhe um sábado com muitos espelhos, onde você
possa também começar a se enxergar com muita compreensão e respeito por si mesmo.
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