segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Remake da peça “política”...


Pensar a respeito dos malefícios que a ditadura militar trouxe aos direitos de todos nós, cujas metástases nos acompanham até os dias atuais, é justo o que me faz compreender esta paixão tolerante que imprimimos ao mau-caratismo que explicitamente vai se desenvolvendo no decorrer das pré-candidaturas.

Chegam às raias do engraçado os pseudos segredos, que todos, pelas ruas e esquinas, ficam sabendo. O falso segredo das negociações, os critérios hipócritas que são utilizados na tentativa de se camuflar a ânsia pelo poder, os disfarces sorrateiros, os encontros em surdina, os pactos semelhantes aos feitos com o diabo, onde tudo é permitido, onde a censura é abafada.



Pensando bem, o melhor de cada eleição são os meandros engendrados, as intrigas, os cochichos, as dúvidas, as traições, os golpes, as artimanhas, os casos e os acasos, as perdas e os ganhos de cada etapa que, se bem observados, são como gozos orgásticos quando bem apreciados, porque afinal, nesta época que antecede a estreia da temporada do grande circo político, os envolvidos se sentem livres e tudo acaba podendo ser feito ou pensado, porque enfim é época da “política”, onde verdadeiramente ninguém respeita ninguém e nesta arena de lobos e coiotes o mais esperto, criativo e ardiloso desponta algumas vezes da obscuridade, se revelando nos palanques a olhos nus.

Aparentemente, da noite para o dia, todos os envolvidos se tornam estranhos e desconfiados, apagando-se, como na mágica, jornadas passadas de outros companheirismos.

Mudam-se projetos e afinidades, mudam-se caráteres com facilidade.

Ah! É muito bom, viver a democracia, mesmo quando capenga, pobre e arredia.

É viciante absorver o ópio político que antecede cada eleição, levando os dependentes, como eu, ao frenesi das conjecturas e deduções das armações que, Deus!, são ilimitadas nas mentes, interesses e emoções dos candidatos.


Inimigos se tornam amigos, desafetos se reconciliam, amantes apaixonados se separam, amores profundos se traem.

Esta delícia de orgasmo continuado vai se processando lento, progressivo e silenciosamente dentro do emocional de todos nós, sem que possamos verdadeiramente controlar os impulsos que nos direcionam, ora a participar, ora a, simplesmente, apreciar este bailado de atos e emoções.

Comparo as pré e as candidaturas ao frenesi que nos domina frente a uma nova conquista, seja ela qual for, mas em se tratando de conquista amorosa, somos todos arteiramente camuflados, tal qual o mais primário ou sábio político, revestindo-nos de pseudos atributos, disfarces e matreirices que deixamos às vezes cair por terra, mais rápido do que o devido, tão logo fisguemos o objetivo.

O bom e, repito, o orgástico, é o antes que se reveste de expectativas e que se consolida nos palanques, onde as máscaras são ostentadas sem pudores e vergonhas, onde vence o que melhor convence.

Nesta etapa do processo eleitoral, tornamo-nos fãs, como na tv, teatro ou cinema, batemos palmas, cantamos e, cá pra nós, até nos emocionamos, esquecendo por momentos que aquilo lá é um palco, eles, os atores, e nós, o necessário público.

A diferença entre o prático e o ilusório é justamente a hora do intervalo, que na política se estende por longos e dolorosos quatro anos, onde nos obrigamos a conter as dores da decepção que fatalmente somos acometidos, frente à realidade que se descortina e que empana, sufoca e decepciona, deixando um certo vazio, mesmo quando, como velhos expectadores decoramos as falas, pois já assistimos inúmeras vezes a peça e, portanto, prevemos o final.

E aí penso que o pior das ditaduras é justo tirar de nós, todo este espetáculo, todo este suspense, esse farfalhar de emoções que reabastece sonhos, amplia horizontes e que de uma forma ou de outra, ilumina os salões do cotidiano, nos fazendo crer que entre o Deus e o Diabo das negociações políticas, há sempre um povo carente, mas esperançoso, aplaudindo ou vaiando, mas, acima de tudo, sentindo tudo e muito mais, até mesmo tolerando os tolos, os abusados e os mentirosos.

Viva então a democracia, mesmo que fajuta, mesmo quando capenga, pobre e arredia!

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