São quatro
horas da manhã e não estou acordada por insônia, jamais, apenas já dormi o
tanto que minha natureza solicita e, naturalmente, prefiro escrever à qualquer
outra atividade, até porque não posso colocar em prática algo que possa vir
abalar este silêncio bendito, onde posso escutar a minha mente curiosa que está
sempre questionando algo.
Ao acessar o
facebook, mais uma vez pude ler a respeito da morte da atriz Yoná Magalhães,
aliás, a cada instante, alguém morre longe ou bem perto de nós e, na sua
maioria, sequer sabemos quem eram e qual a importância que estas pessoas tinham
no seio de seus universos pessoais, apenas morrem e, neste caso,
desconsideramos emocionalmente, dizemos algo apropriado à ocasião ou, como nos
casos de pessoas famosas, lamentamos na proporção de nossas admirações.
Então penso
na morte com uma naturalidade que afronta a muitos na medida em que não consigo
vê-la como uma desgraça na vida de alguém, apenas como um capítulo que se
encerra, como tantos outros que sequer consideramos, aí sim para espanto de
pessoas como eu, que opta em reverenciar a vida em todas as suas mais singelas
expressões.
Por exemplo,
o fim de um relacionamento que começou bonito, repleto de promessas e planos e
que, com o decorrer do tempo, ao invés de se fortalecer, se desgasta e se
apaga, muitas vezes deixando brasas acesas que queimam as almas dos envolvidos
e destrói emoções dos filhos que, no final das contas, pagam um tributo não
devido a eles.
Penso também
nas agressividades que proporcionamos aos demais pela arrogância de nossas
posturas.
No prazer
camuflado que sentimos ao assistir telejornais que exploram a desgraça humana
nos seus mais cruéis detalhes, dando Ibope às mazelas que deveriam nos fazer
chorar de vergonha.
São tantos
os aspectos danosos que se direcionam à morte e que cultuamos em todos os
setores da vida humana, inclusive nas angústias e muitas vezes dores profundas
que infringimos aos outros, incluindo aqueles que dizemos mais amar e, de
repente, quando o capítulo se encerra desta ou daquela criatura, seja humana ou
não, choramos ou nos descabelamos, como se a morte não fosse a mais presente
das certezas.
Particularmente,
fico triste quando a cortina da vida se fecha para alguém na mais tenra idade ou
de jovens no vigor de suas existências, seja por uma doença ou pela brutalidade
da estupidez humana, mas não posso chorar por quem percorreu uma vida repleta
de emoções boas que foram desfrutadas ou por dificuldades que foram suportadas
e superadas, não por quem beijou, amou, contemplou auroras e por de sois,
usufruindo de cada instante de vida.
A não
aceitação da morte me remete a pensar que talvez não tenhamos a devida
consciência da bendita vida, frente a ausência sistemática que imprimimos a
nossa consciência em respeitá-la e cultivá-la na grandeza de sua real
importância, evitando ferir, enganar, trair e o tudo mais que somos capazes de
oferecer a nós mesmos, numa inconsequência assustadora como se esta, jamais
fosse se acabar.
Não chorem
por mim, jamais.
Pensem que
amei, beijei e procurei ser fiel a tudo e a todos com os quais convivi, fazendo
de minha vida não um plácido e monótono lago, mas um rio vivo e repleto de
correntezas que me levaram a muitos lugares desconhecidos, mas que me garantiu
duas benditas margens que me orientaram e não me permitiram sentir a solidão do
abandono, aí sim, dolorosa morte de se sentir vivendo.
Então, para
que chorar?