Bem, no aqui e agora o sentido da ética tem sido moldado de
acordo com os interesses e necessidades individuais, o que é absurdamente
assustador, pois até então o que era possível de observar era a aplicação de
uma ética de grupos, onde estes formulavam conceitos próprios em detrimento dos
demais, característica que marcou grupos sistêmicos de forma indelével através
de exemplos deploráveis das guerras e fundamentalismos de qualquer natureza.
Isso não significa que evoluímos nesse aspecto, já que de
forma disfarçada e com um sem número de nomes a aplicabilidade da ética
exclusivista permanece mais forte do que nunca, escravizando uns em detrimento
de muitos.
A essa continuidade perversa oferecemos culpa ao sistema, mas
este sempre existiu por pura necessidade de normas de procedimento individual
em meio a grupos, esta conceituação se adequa agora ou sempre, repito, aos
interesses normalmente de poucos como já analisava Platão no estudo de sua “polis”
ideal, debatendo junto a Glauco as formas pelas quais dever-se-ia conduzir um
povo comparando as formas mais adequadas de governabilidade, onde a ética se
fizesse mais presente.
Entretanto, para a maioria que sequer ouviu falar nesta tal “República
de Platão”, o que conta verdadeiramente é a forma pela qual ela, pessoa, possa
ir e vir sem grandes atropelos, mesmo reconhecendo desde sempre que os
percalços existirão por todo o tempo, desenvolvendo, assim, uma autodefesa
contínua onde os seus interesses são o que conta verdadeiramente, e estes,
podem ir do ato simples de não devolver um troco que recebeu a mais, até a
violência ao outro ou a tudo com que eventualmente precise conviver, não
havendo nem nos lares e muito menos na escola, qualquer associação educativa
que correlacione sua postura a todas as mazelas com as quais convive, ficando
cada ato com definições absolutamente individuais e até currículos específicos
a serem estudados, mas jamais qualquer consciência de que o ponto de partida e
o cerne de todas elas é a soberana ética, que, afinal, norteia os
direcionamentos físicos e mentais de todo e qualquer ser humano.
As grades curriculares estão sendo alteradas periodicamente com
adições de disciplinas que infelizmente nada acrescentarão às nossas crianças e
adolescentes se a elas não for adicionado o conteúdo básico e fundamental de “vida
e liberdade”, caminho único para o entendimento de convivência e humanidade.
Vida e liberdade representarão uma luz nas mentes infantis,
donde então aprenderão a identificar-se por todo o tempo de forma absolutamente
natural, como parte integrante e ativamente participante do tudo do todo que
pode ser chamado de terra, espaço, habitat, cosmo, universo, mas que para ela
significará tão somente estabilidade pessoal, onde sua própria consciência de
ser um ser existente a manterá ligada a uma consideração respeitosa a si mesma,
não se permitindo qualquer afrontamento à essência do tudo o mais, porque
permanecerá reconhecendo-se no outro, seja humano ou não, e aí, a essência e a
existência se fundirão em uma saudável parceria ética de respeito à vida, razão
única capaz de nortear posturas individuais que certamente se refletirão na
formação e manutenção de qualquer tipo de grupo, atividades, ambições e
quereres.
Afinal, para ser, sentir e desejar a legítima liberdade,
somente é possível através da conduta de uma vida ética que se possa exercer
desde sempre por toda uma existência.
Gente como eu e você, já inseridos ao longo da vida em uma
quase total alienação quanto a tudo a que me referi anteriormente, resta à
absoluta certeza de que é possível chegar-se a tal entendimento se nos
propusermos a rever valores, corrigir distorções conceituais, perdoando-nos por
todo o tempo já que se tal legado não nos foi repassado no devido tempo, tempo
hábil agora possuímos, assim como a consciência dos horrores que nos cercam e
do quanto ainda precisamos arestar de nossas posturas físicas que são reflexos
diretos de nossos emocionais empobrecidos, que certamente fazem de nós criaturas
menores frente à grandeza na qual estamos inseridos.
Ética, é uma virtude que devemos empregar aos nossos atos,
seguindo valores de respeito aos valores morais que não firam a nós mesmos,
assim como tampouco ao tudo mais deste mundo, desta terra, deste cosmo, ou se quiser,
deste universo, que de tão perfeito, pessoalmente chamo de Deus.
E aí, aquele sorriso, aquele muito obrigado, aquele abraço
fraterno, aquele me dá licença, aquele por favor e me desculpe, fazem toda a
diferença, pois representam o primeiro passo para que um alguém, como eu e
você, possa adentrar no recinto infinito do respeito à vida com profundo senso
de liberdade existencial, justo por estar se sentindo cônscio do espetáculo de
perceber que é um ser que existe e que é capaz de pensar e escolher viver muito
mais confortavelmente saudável e feliz, independentemente das ações alheias,
pois o que contará sempre será o que se pensa e se faz.
Ah! E se for o caso, que não se tenha preguiça ou pudor, ou
seja lá o que for, para dizer:
- Eu te amo!
- Você é lindo!
- Me ajude, por favor!
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