segunda-feira, 19 de agosto de 2024

COMECEI CEDO...

Neste amanhecer, ainda na pegada das recordações, viajo na memória, indo ao encontro de uma garotinha de alma rebelde que aos doze anos, numa sexta-feira ao chegar da escola, sabedora de que sua mãe ainda estava fazendo a feira da semana, colocou em prática, sua primeira contravenção, abrindo o guarda-roupa e dele retirando um maiô, uma saída de praia, um chapéu de vime, um chinelo e uma muda de roupas e com  a maior determinação, telefonou para a queridíssima tia Hilda para pedir se  poderia viajar com ela para Guapimirim...

E assim, com a maior premeditação a garotinha imaginativa, seguiu na pratica de sua delinquência adolescente, sem sequer pensar no rebuliço que estaria causando no seio de sua família, principalmente em se tratando de sua mãe que quase enlouqueceu, mas que sem alardes, começou a ligar para as amiguinhas e parentes que moravam mais próximos, como a vovó Regina, no quarteirão seguinte.


Ninguém dava notícias da Regininha e aí, como seria quando o Sr. Hilton chegasse na parte da tarde, afinal, ela era a íris dos olhos dele?

Enquanto isso, lá no sítio, a Regininha regalava-se em seu paraíso tropical, sem sequer se lembrar dos estragos que causara com sua atitude libertadora.

Hoje, infinitas décadas depois, penso no que de verdade motivou a fujona.

Seria o fato de ter ficado de segunda época( recuperação) em português, estragando assim, as férias da família?

Seria a inevitável e imediata surra e os castigos que se seguiriam, assim, como os sermões intermináveis que teria de ouvir da severa mãe ou simplesmente, com estes motivos relevantes, a eles, adicionei o meu espírito rebelde e coloquei em pratica a minha já profícua imaginação, dando prioridade a minha liberdade de decidir o que há muito, queria fazer...

No final da tarde seguinte, enquanto, deitada numa espreguiçadeira apreciava a chuva cair, observando uma goteira que se formara a partir de uma enorme folha do Cipó Imbé que se enroscava num caule de uma frondosa árvore, pude também observar o carro preto se aproximando e dele saltar meus pais...

Que coisa, viu... 

Meu coração foi parar na boca, afinal, como me descobriram?

Por uma questão de lógica e sabedores de que eu era rebelde, mas cientes do caráter e preferências da garotinha que criavam, buscaram através das roupas que separei para a fuga, o rumo de meu trajeto.

Ligaram para a casa de tia Hilda em Copacabana e o caseiro, garantiu que eu havia viajado com ela e com o Dr. Bety para a Irmandade.

Simples assim...

Não levei nenhuma surra e muito menos fiquei de castigo, graças ao meu pai, mas escutei milhares de sermões e queixas de minha mãe, que até morrer, não me perdoou pelo ato irresponsável que cometi e que segundo ela, causou-lhe extremo sofrimento.

Moral da história é que, deste fato em diante, não mais fugi de nenhuma responsabilidade ou das eventuais surras que a vida poderia e muitas vezes me deu, o que não impediu em momento algum que eu fizesse, tudo quanto, eu desejasse, mesmo que contrariando a lógica do sistema e dos hábitos sociais.

Afinal, meu mundo não era Ipanema e de todos os parangolés de menina carioca, classe média comportada doa anos sessenta, já que minha alma era caipira, meu espírito das matas e minha mente liberta, faziam de mim, comandante in chefe do meu tempo e das minhas preferências.

Dei trabalho e como dei...Inclusive ao meu Roberto que se gostava da minha sempre honesta, divertida e franca transparência, também precisou se adaptar as minhas transgressões, que não foram poucas... 

Regina Carvalho-19.8.2024  Itaparica

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