...entre risos, músicas, bons vinhos e conversas animadas entre amigos, calei-me de supetão, pois, algo surreal me acontecia fisicamente, já que meus ouvidos de repente se fecharam e tudo que me restara era poder acompanhar com meus olhos meio que velados por uma névoa opaca, os movimentos dos demais, assim, como entender uma interrogação mental que eu fazia para mim mesma; “ criatura, o que você está fazendo aqui”?
Lembro-me de ter me levantado, me despedido rapidamente e saído pelo portão, voltando a enxergar e a ouvir, além de ser tomada por uma alegria súbita, como se eu estivesse acabado de atravessar os portões de uma prisão.
Nunca mais fui a mesma Regina depois desta noite de um certo verão, onde compreendi o quanto, eu estava me esforçando em parecer o que eu jamais poderia ser.
Compreendi finalmente, a minha não mais necessidade em me inserir neste ou naquele ambiente, tão somente, para parecer interessante, neste ou naquele aspecto.
Como num passe mágico, eu não precisava mais de aprovação...
Que bom, meu Deus!!!
Já no carro, atravessando a cidade, no silêncio da noite, abri todas as janelas para que o vento com cheiro de maresia adentrasse e circulasse safadamente, ora bagunçando os meus cabelos, ora me beijando a nuca e a face, rodopiando o meu colo, provocando-me arrepios, num abraço amoroso da mais apaixonante liberdade.
Enquanto, narro mais este episodio de minha vida, lá fora, acontece mais um espetáculo da natureza, já que a chuva fina e rápida, banha despudoradamente o sol, que lá vai se despedindo sorrindo desta quarta-feira, simplesmente, espetacular.
Depois dessa, só escutando alguns boleros com Luis Miguel e me dando ao desfrute de me entregar nos braços da minha fértil imaginação...
Regina Carvalho- 25.9.2024 Itaparica
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