Enxugo as lágrimas teimosas que insistem em rolar por este rosto de mulher madura e penso, então, que se néctar regenerador este choro fosse, nenhuma ruga existiria neste meu semblante, assim, como nenhuma mágoa deixaria de ter sido lavada e, portanto, retirada desta minha alma de poeta que, tal qual, as lágrimas, insiste em enxergar um mundo mais bonito que na realidade o é.
O que fazer com este sentimento de frustração, quando por instantes, vejo-me diante do imponderável?
Os anos passam e apesar das lágrimas parecerem as mesmas e eu crer que até mesmo choro menos, vejo-me como agora, sem qualquer amparo, chorando novamente.
Deixo-me então chorar...
Penso em minha alma de mulher que livre, cria e molda incansáveis paralelos de luz, mas que também se curva de dor, pelo desencanto ou talvez, seja mais verdadeiro dizer que seja pela impotência de nada mais poder acrescentar a este e a tantos outros barcos que seguiram seus próprios rumos...
E se nunca precisei chorar pela perda de um grande amor, com certeza, muito chorei pelas perdas das ilusões em meu cotidiano de mulher com alma de artista que insiste em pincelar com cores, nuances de brilho, na teimosia em enxergar o belo e o ideal ponderável.
Perdoai-nos senhor, porque nenhum de nós, sabe exatamente o que faz...
Regina Carvalho- 9.10.2024 Itaparica.
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