Em 1978 indo com o Roberto trabalhar no Jornal de Minas as 7.30h de uma manhã qualquer pela Av. Afonso Pena(B.H),avistamos ao longe, um caminhão frigorífico com as portas traseiras abertas e o que nos levou a deduzir, tratar-se de peças de carne que haviam caído no asfalto.
Foi preciso diminuir a marcha do carro, pois, o trânsito estava lento e seu fluxo era medido pela polícia no local.
A minha miopia nesta manhã fatídica, além da mão de meu marido que evitaram que eu enxergasse, tampando rapidamente os meus olhos que automaticamente curiosos, tentavam enxergar aqueles pedaços de carne esfacelados que nada mais eram que os corpos de duas idosas irmãs gêmeas que haviam ido comprar pão.
Mesmo não os reconhecendo a uma certa distância como vidas humanas, pude aterrorizada imaginá-las e imediatamente, reconheci aquela sensação íntima de precisar escrever e foi exatamente o que fiz, tão logo, adentrei em minha sala de trabalho, no departamento comercial, descobrindo-me então, uma cronista, mais que uma pessoa que gostava de escrever, como mecanismo de diletantismo, registrando emoções, mas acima de tudo, uma narradora do cotidiano, colocando nele, a realidade, sem deixar de pontuar o positivo e o belo que nunca deveriam faltar, fosse no que fosse.
Assim nasceu “ Aqui deveriam nascer rosas”, com certeza, a primeira e mais autêntica crônica entre infinitas outras que escrevi ao longo de minha vida, definindo meu estilo em narrar o cotidiano e assim, me apresentar ao mundo.
Não demorou muito para eu deixar o comercial, migrando para a redação, onde estou até hoje, só que nos últimos23 anos, meu jornal é a minha Itaparica e minha inspiração advém do amor que sinto por ela, numa busca incansável da conquista do insistente impossível...
Regina Carvalho- 8.10.2024 Itaparica
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