sexta-feira, 19 de abril de 2024

ELEGÂNCIA, ONDE ESTÁS QUE NÃO TE ENCONTRO?

Pra ver e ser visto, esta era a pegada da hora de minha infância e adolescência, quanto aos cuidados com a aparência, afim de se ir à rua, mesmo que o destino fosse a padaria, ali, logo na esquina. 

Ainda posso escutar minha mãe dizendo na porta do meu quarto; “chega menina, você só vai na padaria”...

Havia um apuro no que vestir e para tanto, não se precisava ser de uma classe abastada financeiramente, apenas o capricho pessoal era parte integrante do cotidiano.


As meninas, aprendiam bem cedo a cuidarem de suas unhas e cabelos e os meninos mais despojados, sempre tinham uma mãe zelosa para cuidarem de suas aparências.

Bem, estou falando de uma época vivida num Rio de Janeiro, ainda capital do País e que depois, ao passar o trono para Brasília, por alguns anos, bravamente tentou manter-se dentro dos padrões da elegância e sofisticação.

Se bem que ao conhecer São Paulo, em 1965, pude perceber que por lá, o rigor era ainda maior, já que o clima do frio e da garoa, exigia um outro padrão mais discreto e sóbrio, o que poderia indicar uma maior sofisticação.

Particularmente adorei os cinco dias que por lá estive, afinal, pude tirar do ostracismo os belos agasalhos e os costumes de veludo cotelê que só me era possível usar, quando em férias no mes de julho, quando, íamos para a serra de Petrópolis, já que as férias de final de ano eram geralmente, passadas parte em Teresópolis, parte em Guapimirim, onde então, o despojamento era a tônica maior, todavia, fora das cercanias dos sítios e chácaras, o apuro com a aparência era uma forma de respeito a si e aos demais.

Ainda nos anos sessenta, mas com força total nos anos setenta, com ampla visibilidade midiática os hippies foram chegando, trazendo em suas indumentárias uma nova forma de se portar. Eram jovens em sua maioria nordestinos com suas músicas, bijuterias variadas e misturadas, cabelos desalinhados e formas de vivências alternativas, trazendo implícito um modismo do “não estou nem aí”, exibindo uma espécie de liberdade, desconhecida pelos jovens do sul e sudeste que até então, só tinham como referências a jovem Guarda e os filmes americanos com a juventude transviada do final dos anos 50, portanto, as novidades logo foram abraçadas pelos jovens, para terror dos mais velhos e conservadores papais e mamães que viram seus filhos,  topicalizarem-se através das roupas desengonçadas e dos novos valores comportamentais, impensáveis. Para os seus rebentos, esta foi a forma encontrada para resistirem filosoficamente a uma ditadura que havia se instalado em 1964 e nas mudanças que ocorriam pelo mundo.

Afinal, era proibido, proibir...

Bem...Pelo menos, é assim que interpreto, confessando que verdadeiramente, nunca me interessei pelo porquê do porquê, preferindo mantér meus próprios critérios de escolhas que, aliás, dentro das possibilidades, conservo até hoje, mesmo reconhecendo as imensas dificuldades, justo por se encontrarem fora dos costumes dos últimos pelo menos, cinquenta anos. 

Todavia, preciso confessar o quanto, ainda me choca o desleixo das pessoas no trajar e no se comportar em público, dando-me a impressão que a escassez das roupas, aliado a um profundo mal gosto, mais que exibir uma liberdade sem controle, tornou-se o símbolo ostensivo do flagelamento humano em todos os níveis.

Tempos modernos, onde as confortáveis havaianas, saíram das areias das praias e invadiram o asfalto, soterrando sem piedade o “bom gosto e o fino trato” de uns para com os outros.

Regina Carvalho-19.04.2024 Itaparica

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