Nesta manhã chuvosa e incrivelmente ouvindo alguns pássaros que agitados piam escondidos entre os galhos e as densas folhagens das sobreviventes mangueiras próximas, penso envergonhada que até, conhecer o nordeste, não havia visto tão de perto as expressões dolorosas e silenciosas da miséria, onde geralmente as mulheres, são as protagonistas anônimas.
Nas esquinas do Brasil profundo, onde o sol castiga e o tempo se arrasta entre baldes d’água e contas atrasadas, vivem mulheres que sustentam o país sem saber. No Norte e no Nordeste, especialmente, elas são o esteio de lares que resistem na marra, no improviso e na oração.
Acordam cedo, antes inclusive da esperança e até da própria vontade. Fazem do ralo café coado a gasolina para mais um dia de lutas que ninguém aplaude. Cuidam dos filhos, dos netos, de vizinhos e até dos maridos que, não raro, são mais peso do que parceria.
São essas mulheres que, silenciosamente, seguram um país que insiste em lhes virar as costas. A corrupção nas Prefeituras e nos demais órgãos públicos, rouba o que já era pouco: o remédio do posto, a merenda da escola, o ônibus que nunca passa ou é inexistente, mas elas continuam fiéis. Não a partidos. Não a promessas. Mas a uma ilusão cultivada há décadas de que um dia “vai melhorar” e enquanto isso, alimentam-se parcamente das migalhas do poder.
O mais duro é perceber que muitas dessas heroínas mantêm lealdade emocional a opressores, maridos abusivos, políticos corruptos, líderes que só aparecem em época de voto. E seguem dizendo “ele é ruim, mas é o que a gente tem”. A esperança, nesse contexto, é quase uma maldição que as mantém presas à repetição do sofrimento, não havendo quebra de contrato entre a miséria e a carência continuada.
Não há teatro no mundo que resista sem bastidores. E não há país que caminhe sem essas mulheres.
Confesso que tente esclarecer algumas dessas incríveis mulheres, usando a razão e o bom senso, num estímulo diário aos seus direitos e talvez, tenha conseguido romper o véu do desconhecimento em algumas, constatando com dor no coração o quanto é quase impossível vencer um sistema carrasco que além de privar, alicia corrompendo a todo aquele que compreende, mas se torna cego a todas as misérias a sua volta, numa cumplicidade silenciosamente doentia e mazelenta. Escrevo sobre estas mulheres das quais, conheci muitas bem de perto neste paraíso que é a Bahia, especialmente na minha adorada Itaparica que se não fossem as ações danosas das corrupções políticas, somente nestes 23 anos que por aqui aportei, poderia ter se tornado um Edem não só para turistas, veranistas e de gente como eu que acredita no bem comum.
Se ainda é pouco suas utas e labutas, ainda precisam chorar baixinho pelas perdas de seus filhos e netos que tombam chacinados diariamente nas caçadas e becos pela crescente violência de todos os níveis.
Por que ser mãe periférica, geralmente preta ou parda, precisa doer tanto ao ponto de anestesiar seus desejos de uma vida mais digna?
Peço a Deus, perdão aos corruptos carrascos, pois, oprimem e matam com as suas ganancias e vaidades sem qualquer sentimento humanitário, o que me leva a deduzir que “não sabem o que fazem”, tal qual, Jesus deduziu e pediu na cruz a seu pai mediante a morte.
Regina Carvalho- 15.7.2025 Itaparica
Nenhum comentário:
Postar um comentário