domingo, 13 de julho de 2025

“Pertencer para Transformar”

Era uma vez uma Regininha que descobriu que o mundo não começava na sala de aula, nem terminava no portão da escola. Descobriu que o mundo estava na calçada da sua rua, nas histórias do seu bairro, nos sotaques de sua cidade plural, nas diversidades e contradições do seu estado, e até, no seu país.

Regininha, enquanto criança forte e bem nutrida, aprendeu que aprender não era só decorar datas e fórmulas. Era também reconhecer o cheiro da comida do vizinho, escutar o samba carioca da esquina, notar o buraco na estrada, a luz do poste apagada, o indevido lixo pelas ruas e questionar por que ele ainda estava lá. Era olhar para o chão onde pisava e, ao mesmo tempo, levantar os olhos para o céu, acompanhando os voos dos pássaros e borboletas, afinal, sonhar, desejar e tentar criar, também era preciso.


Quando uma criança se sente parte do lugar onde vive, ela aprende a cuidar. E ao cuidar, começa a pensar. E ao pensar, começa a transformar. E essa transformação, quando amadurece, chama-se cidadania.

Cidadania que nasce da raiz do pertencimento e cresce sob a luz do bem comum. Cidadania que não se deixa enganar por promessas vazias, nem apoia o nitidamente inadequado, só porque é conveniente ou familiar. Porque quem pertence de verdade, esteja vivendo em qualquer lugar de seu país ou mundo, não admiti como “normal” que a dignidade de um só cidadão seja trocada pelo conforto de muitos. Quem se sente parte, sente também o que dói no outro.

Aperfeiçoei ao longo da vida que senso crítico é filho do pertencimento e irmão da responsabilidade.

 Quando educamos uma criança a reconhecer o valor de sua casa, seu bairro, sua escola, sua cidade, estamos ensinando que nenhum espaço deve ser abandonado à ignorância, nem entregue ao descaso, isso é participação, interação e, portanto, amor.

Formar cidadãos é mais do que ensinar direitos, é despertar deveres. É ensinar que votar não é torcer, é escolher com consciência. Que política para o cidadão precisa ser sinônimo de ética pessoal que o define nas suas demais ações e que não pode e não deve ser um jogo de interesses, mas ferramenta de justiça. Que o bem comum é o único projeto digno de ser defendido.

E que tudo isso começa ali, na infância, quando alguém diz: “Este lugar é teu. Este povo é teu. Cuida dele. Pensa nele. Luta por ele.”

Regina Carvalho- 12.7.2025 Itaparica

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