terça-feira, 26 de agosto de 2025

NAS ASAS DA VIDA

Em algum momento da minha vida, que não sei precisar, mas que com certeza, foi na infância, crendo ter sido num instante crucial em que, lá estava a Regininha afoita, destemida, curiosa, questionadora, enroscando-se , camuflando-se e, protegendo-se rapidamente numa emoção que gostou de sentir e que, muito mais tarde, compreendeu tratar-se de uma tal de autoestima.

Sensação agradável que me fez entender que a natureza era diversa e infinita e eu, era parte daquele gigantismo que meus olhos eram capazes de enxergar e meu corpo, de sentir. 

Descobri fascinada que poderia escolher qualquer elemento deste fantástico universo para estar comigo, já que, na solidão de rapa do tacho de uma família de meia-idade, ansiava por companhia, espevitada como era.


E não é que encontrei?...

Primeiro chegaram os pássaros, moleques ariscos que, com seus constantes e rápidos voos, mostraram-me a importância dos retornos ao bendito ninho. Voltavam trazendo nos bicos tudo de bom e necessário para os que lá ficaram. E, fosse sol ou fosse chuva, cantavam e mesmo sem entender o que diziam uns aos outros, deduzi tratar-se também de uma constante celebração pela liberdade que suas asas ofereciam.

Mais adiante, encantei-me com as belíssimas e silenciosas borboletas, que bailavam levemente diante dos meus olhos e que, com certeza, eram capazes de pousar sem ruídos e até mesmo sem serem notadas nos entremeios dos galhos de qualquer planta. Num labor silencioso, cumpriam a tarefa de distribuir sementes de vida, fazendo com que tudo se renovasse a cada estação.

Penso: ai de mim, se não as tivesse notado na beira do riacho de Guapimirim...

Como teria sobrevivido, quando o simples fato de existir me foi tão agressivo?

Afinal, na minha impulsividade sequer pedi carona: fui logo ajeitando-me entre suas asas, descobrindo, deslumbrada, que estavam lá justamente para servir de escape seguro a qualquer dor, frustração ou ferida que pudesse adoecer ou até mesmo matar, o limitado humano.

E lá estava eu, sem asas para voar, mas com uma vontade imensa de não me limitar. Descobri, fascinada, que a vida é um todo completo, sempre capaz de oferecer amparo seguro, desde que com ela haja respeito na interação.

Bom dia, com amor, a partir da própria vida.

Regina Carvalho – 26.08.2025, Tubarão – S.C.

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