Em algum momento da minha vida, que não sei precisar, mas que com certeza, foi na infância, crendo ter sido num instante crucial em que, lá estava a Regininha afoita, destemida, curiosa, questionadora, enroscando-se , camuflando-se e, protegendo-se rapidamente numa emoção que gostou de sentir e que, muito mais tarde, compreendeu tratar-se de uma tal de autoestima.
Sensação agradável que me fez entender que a natureza era diversa e infinita e eu, era parte daquele gigantismo que meus olhos eram capazes de enxergar e meu corpo, de sentir.
Descobri fascinada que poderia escolher qualquer elemento deste fantástico universo para estar comigo, já que, na solidão de rapa do tacho de uma família de meia-idade, ansiava por companhia, espevitada como era.
E não é que encontrei?...
Primeiro chegaram os pássaros, moleques ariscos que, com seus constantes e rápidos voos, mostraram-me a importância dos retornos ao bendito ninho. Voltavam trazendo nos bicos tudo de bom e necessário para os que lá ficaram. E, fosse sol ou fosse chuva, cantavam e mesmo sem entender o que diziam uns aos outros, deduzi tratar-se também de uma constante celebração pela liberdade que suas asas ofereciam.
Mais adiante, encantei-me com as belíssimas e silenciosas borboletas, que bailavam levemente diante dos meus olhos e que, com certeza, eram capazes de pousar sem ruídos e até mesmo sem serem notadas nos entremeios dos galhos de qualquer planta. Num labor silencioso, cumpriam a tarefa de distribuir sementes de vida, fazendo com que tudo se renovasse a cada estação.
Penso: ai de mim, se não as tivesse notado na beira do riacho de Guapimirim...
Como teria sobrevivido, quando o simples fato de existir me foi tão agressivo?
Afinal, na minha impulsividade sequer pedi carona: fui logo ajeitando-me entre suas asas, descobrindo, deslumbrada, que estavam lá justamente para servir de escape seguro a qualquer dor, frustração ou ferida que pudesse adoecer ou até mesmo matar, o limitado humano.
E lá estava eu, sem asas para voar, mas com uma vontade imensa de não me limitar. Descobri, fascinada, que a vida é um todo completo, sempre capaz de oferecer amparo seguro, desde que com ela haja respeito na interação.
Bom dia, com amor, a partir da própria vida.
Regina Carvalho – 26.08.2025, Tubarão – S.C.
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