“Ver demais é a bênção e a maldição de quem não consegue fingir que a vida é simples.”
Neste final de tarde, escuto Richard Clayderman.
As melodias não me são novas.
Tenho a sensação de tê-las ouvido a vida inteira, como um fundo sonoro das minhas escritas emocionais.
Nem sempre tranquilas.
Nem sempre serenas.
Hoje, sinto-me vazia de ideias, perdida entre a mente e as teclas.
Busco palavras.
Mas como explicar que ninguém, muito menos eu, consegue ser feliz o tempo todo? Vivemos numa época em que sentir tristeza, medo ou solidão quase se tornou proibido.
À nossa volta, tudo brilha.
E de nós esperam, no mínimo, gratidão, mesmo que não saibamos bem pelo quê.
Só que a mente humana não funciona assim.
Ela birra, empaca como uma mula velha diante do imponderável.
E é exatamente assim que me sinto.
Ah... como eu gostaria de ter nascido alienada.
Leviana.
“Burrinha”.
Coquete.
Fora do contexto racional.
Mas não.
Nasci curiosa, questionadora, inquieta.
Uma escafandrista dos desertos sistêmicos.
E vi, vejo demais.
Por que precisei nascer enxergando o simples num mundo que insiste em complicar tudo.
Hoje sinto preguiça.
Preguiça de admitir que até eu, no desespero de não me sentir excluída, já vesti pelo avesso a estupidez humana.
Fingindo não a reconhecer.
Quando, na verdade, ela me é tão afrontosamente óbvia.
Regina Carvalho – 21.08.2025
Tubarão – S.C.
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