Amanheci pensando
no quanto julgamos mal o outro,
sobretudo aquele que recusa a mesmice
e ousa ser diferente.
Eu, que sempre adorei voar
na garupa dos pássaros e das borboletas,
trago ainda os olhos voltados à terra,
nem sempre firme,
nem sempre segura.
Sou cronista viajante entre nuvens,
capaz de criar ideais de luz,
e no mesmo instante
mergulhar em realidades duras,
que assustam,
que ferem,
que me roubam os belos.
Essa dualidade me habita:
ora encanto, ora assusto.
Como confiar em quem se divide
entre a poeta que pinta o mundo de cores
e a crítica que arranca as máscaras,
expondo a podridão dos oportunismos,
os chorumes que enfeiam a vida?
Penso em Hitler, no Holocausto,
nas guerras de agora,
e não encontro diferença:
lá, a morte em fornos;
aqui, a morte à fome,
a céu aberto.
E neste sábado cinzento,
na solidão dos meus escritos,
sou párea,
sou deusa,
sou chacal das misérias humanas,
sou poeta da mesma vida.
Que coisa, viu!
Regina Carvalho — 23.08.2025
Tubarão, SC
Dualidade num mesmo mundo repleto de dúvidas e certezas, sonhos, realidades, poesias e mortes.
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