sábado, 23 de agosto de 2025

CHACAL E POETA

Amanheci pensando

no quanto julgamos mal o outro,

sobretudo aquele que recusa a mesmice

e ousa ser diferente.

Eu, que sempre adorei voar

na garupa dos pássaros e das borboletas,

trago ainda os olhos voltados à terra,

nem sempre firme,

nem sempre segura.

Sou cronista viajante entre nuvens,

capaz de criar ideais de luz,

e no mesmo instante

mergulhar em realidades duras,

que assustam,

que ferem,

que me roubam os belos.

Essa dualidade me habita:

ora encanto, ora assusto.

Como confiar em quem se divide

entre a poeta que pinta o mundo de cores

e a crítica que arranca as máscaras,

expondo a podridão dos oportunismos,

os chorumes que enfeiam a vida?

Penso em Hitler, no Holocausto,

nas guerras de agora,

e não encontro diferença:

lá, a morte em fornos;

aqui, a morte à fome,

a céu aberto.

E neste sábado cinzento,

na solidão dos meus escritos,

sou párea,

sou deusa,

sou chacal das misérias humanas,

sou poeta da mesma vida.

Que coisa, viu!

Regina Carvalho — 23.08.2025

Tubarão, SC

Dualidade num mesmo mundo repleto de dúvidas e certezas, sonhos, realidades, poesias e mortes.




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