domingo, 29 de junho de 2025

APRENDI A VOAR

Ontem, enquanto, ouvia pela milésima vez a música “Samba do Avião” de Tom Jobim e cantada por Miucha, inevitavelmente deixei-me transportar para o Rio de Janeiro em recordações deliciosas de um tempo e de circunstâncias que este mesmo tempo, associado a outras sucessivas circunstâncias, simplesmente descaracterizou sua essência, sobrando apenas, o belíssimo e inigualável designer arquitetônico que ainda encanta, mas não cria as mais profundas emoções que no passado, inspirou poetas nativos e do restante do Brasil que atraídos pela  sua beleza e fama progressista pra lá migrou.

“Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara”

Um Rio de Janeiro sem preconceitos de origem, que acolhia e oferecia oportunidades a quem talento tivesse, a quem trouxesse na alma, as vibrações poéticas do apenas, belo.


E pensar que tive o privilégio de nascer nesta cidade linda e se ainda fosse pouco, no bairro de Ipanema, que na época era um principado sofisticado e absurdamente elegante, tudo que destoava da menina que ainda pequena, contava os dias para que chegassem as férias, para então, "subir" para Teresópolis ou Guapimirim e poder ficar entre a mata e a cachoeira, entre o pomar e o riacho, solitariamente tentando pegar com a pontinha dos dedos ou as palmas da mãos, uma só borboleta, para que através dela, pudesse voar... 

De tanto insistir no enfraquecimento dos naturais receios com a presença de meu corpo estranho, acabei sorvendo suas vibrações e em dado momento, sem alardes, senti-me absolutamente livre, afinal, mais que tocá-las, lá estava a Regininha em suas garupas, voando com elas... 

Voos que se perpetuaram, criando e garantindo parcerias amorosas com as alegrias, surpreendentes oportunidades, consolos e a bendita esperança, ensinando incansavelmente a transformar graciosamente e sem medo, mas sempre no seu devido tempo, o lúdico em real.

Esse texto, dedico ao meu amigo, amor e parceiro Sebastião Roberto Couto Leopoldino que por 54 anos, manteve portas e janelas abertas para que eu pudesse voar e ainda hoje, como brisa suave, inspira-me a não desistir jamais de buscar tudo quanto, eu possa crer que me fará feliz...

*Como dizia meu sempre irreverente pai; “a sua sorte menina é que você nasceu com a bunda, virada para o céu”!

Regina Carvalho- 29.6.2025 Itaparica

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O MEU E O SEU TEMPO...

Esse texto eu deveria ter escrito na noite de ontem, enquanto assistia ao Globo Repórter em que o tema eram os baianos da família Veloso, es...