O simples ato de ler um livro traz, de forma implícita, um dos maiores ensinamentos, pouco abordado pela psicologia: virar as páginas.
Sem esse gesto, interrompe-se a continuidade e perde-se o entusiasmo que acompanha a conclusão de cada capítulo lido.
Cada página é vivenciada e absorvida de maneira única por cada leitor, reservando experiências sensoriais e emocionais exclusivas, mesmo que, a olho nu, pareçam semelhantes a tantas outras.
Na prática existencial, o mecanismo é o mesmo. É preciso atenção, dedicação e foco na leitura de cada capítulo da vida, somando-os um a um. Assim, além do simples prazer da experiência, também se absorvem as mensagens contidas em cada momento.
Um livro folheado contém ensinamentos, dinâmicas fictícias ou realidades vividas, capazes de provocar reações e despertar lembranças. Virar a próxima página é sempre uma nova experiência, que pode aliviar ou eliminar tensões, reais ou imaginadas, do capítulo anterior. Mesmo quando o personagem é ficcional, ele reflete, de algum modo, situações humanas e verdadeiras, oferecendo ao leitor múltiplas perspectivas que estimulam a imaginação.
Há, no entanto, leitores que se perdem num único capítulo, incapazes de seguir adiante. Retêm-se no que já foi lido e deixam de viver a experiência transformadora das páginas seguintes, isso, se conseguirem virá-las.
Virar as páginas de um livro, ou das experiências da vida, é mais do que um simples ato contínuo.
Quem não o faz, nunca descobrirá o desfecho da própria história, que, por lógica e bom senso, pode ser reescrita a cada novo dia, já que cada leitor é também o seu próprio escritor.
Será que me fiz entender nesta segunda-feira, em que um novo capítulo se abre diante de nós?
Cabe a mim e a ti decidir se o leremos de forma única, adaptando-o às nossas realidades cotidianas ou se permaneceremos estagnados num mesmo capítulo, fazendo dele o espelho da nossa inércia.
Regina Carvalho
Tubarão, SC — 27.10.2025
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